Da Fazenda Lírio do Vale, na localidade de Bairro Alto em Antonina, partem algumas das mais desafiadoras trilhas de montanhas paranaenses, sendo elas os Picos Saci, Jacutinga, Ferraria Face Leste e também a nova trilha que dá acesso ao Pico Paraná. Além delas, acessa também as chamadas Janela da Cotia e Janela da Conceição, a Cachoeira do Saci (e mais algumas sem nome), e o chamado Caminho do Cristóvão, que liga-o com a Fazenda Rio das Pedras, em Campina Grande do Sul.
Neste último domingo foi a minha segunda visita ao local, após uma sofrida e bem sucedida ida ao Jacutinga no ano passado. O Saci era certamente o próximo, com maior ganho de altitude e distância, mas que eu já esperava que fosse mais fácil e rápido considerando as prováveis condições bem mais favoráveis do percurso.
Divido a ida com um colega interessado em algumas cachoeiras desconhecidas ali perto. Da cerca que divide a estrada de servidão com a trilha que leva até a Cachoeira do Saci/Pico Jacutinga seria um trecho novo pra mim, embora bastante frequentado por servir como acesso aos demais locais. Menos de 10 minutos após aquele ponto, chego até uma bifurcação, onde a estrada mais larga segue á direita, diretamente em direção ao Rio Cotia, e onde meu trajeto segue então por uma trilha, inicialmente mais fechada, que logo retoma os indícios de ter sido uma estradinha no passado. Entre as bifurcações, existe um bom ponto de água, que desce de um cano, bem no meio deles. Deste ponto até chegar na ponte de toras que passa sobre o Rio Cotia mais adiante, o cenário revela-se belíssimo, ainda mais naquela manhã ensolarada.
São cerca de 5km desde o estacionamento até a ponte, trecho que eu já sabia que seria de uma caminhada tranquila, que foi percorrida em 1:15h. cerca de 20 metros antes da ponte, do lado esquerdo, fitas nas árvores indicam o início da trilha nova até o Pico Saci. O trajeto original era feito utilizando parte da trilha até a Cachoeira do Saci, para então utilizar das manilhas próximas á ele que vem da barragem do Rio Saci, para então iniciar a subida da montanha em si por ali. Este trajeto era tido como mais difícil, fechado e até supostamente mais perigoso, motivo pelo qual nos últimos anos foi aberto e estabelecido esta nova trilha como a principal. Uma escolha sensata, visto que partindo da trilha da Cachoeira do Saci até a bifurcação com a trilha nova, é percorrido mais de 2km da trilha antiga, enquanto pela nova, são pouco mais de 800 metros. Apesar disso, a inclinação média nos trechos mais íngremes é bem semelhante.
A trilha nova é bem demarcada, aberta e de fácil orientação para experientes, por ser bem retilínea. As árvores ajudam muito á prosseguir com a inclinação, e não demora muito para perceber-se á beira da leve crista que ali se forma, e passar á ver o característico desmoronamento que forma a silhueta do Saci do lado direito. Pouco além desta visão, a trilha passa por alguns trechos abertos mais íngremes, que fornecem boas paradas para descanso e vislumbre. A junção das trilhas se aproxima.
Ao passar da ligação de ambas as trilhas nova com a antiga a situação muda. A vegetação torna-se do tipo que faz da progressão bem mais lenta e cansativa, por forçar o seu corpo contra ela, enquanto ainda á utiliza para exigir menos dos membros inferiores. Vale lembrar que aqui sobe-se primeiramente o Sacizinho, que é um sub-cume do Saci. Em um ponto chega-se até uma pequena laje de pedra, com visual para o Ferraria e uma sombra, dependendo do horário. Neste ponto pode se ter a impressão de ter errado o caminho, mas ele continua dali. Se desce por uma fenda após ele, onde foi instalado uma corda para descer este trecho, para logo em seguida seguir adiante. Há uma fita branca abaixo dessa fenda para assegurar o caminho na ida e na volta, sendo que a volta, no momento de escalar novamente esta laje, acabou precisando de um pouco mais de esforço. Mais algumas subidas íngremes com o constante apoio das árvores e logo chega-se ao cume do Sacizinho. Ele não possui muito visual, sendo que a maior parte dele é coberta por uma vegetação e a trilha passa pelo meio dele, mas é possível ver dali o Saci já bem próximo, e também a pedra em seu cume que marca o fim do objetivo.
Do Sacizinho tem-se a impressão de que a descida entre ele e o Saci será um tanto íngreme, mas ela é pequena e rapidamente concluída, pois utiliza de uma pequena crista que os liga não muito além do cume do Sacizinho. A subida final consegue ser particularmente chata, com a vegetação novamente invasiva e trechos onde é preciso andar levemente curvado. Ao contornar-se uma grande rocha, percebe-se que é aquela que foi vista anteriormente, e com um leve esforço ela é escalada revelando toda a incrível beleza desta montanha que é muitas vezes deixada mais de lado. O paredão do Ibitirati é o prato da casa, enquanto logo ao lado o Caratuva, o Taipabuçu e o Ferraria posam como irmãos. Também é possível ver o Itapiroca, o Guaricana e os Capivaris. O vizinho Jacutinga não é visível dali, talvez de alguma extremidade, mas pelas fotos de drone é possível vê-lo. Pelo calor que fazia mesmo em pleno Junho e pelo cansaço que foi a subida desde a unificação das trilhas, foi um dos cumes que mais larguei o corpo em descanso. Apesar disso, o tempo de subida foi bom, sendo feito em 4:20h desde o estacionamento, sendo que a média costuma ser entre 4:30h e 5:30h.
A vegetação que tornava lenta a subida consegue tornar lenta a descida. É necessário prestar atenção em um certo ponto em que contorna-se uma rocha ao estar descendo o Sacizinho, pois ali há um perdido aparentemente comum, por estar inicialmente aberto e percebi que alguns dos tracks que seguia também repetiram o engano. Perto dali encontrei um grupo de 4 trilheiros que encaravam a subida, visivelmente sofrendo ainda mais do que eu por estarem naquele trecho em um horário ainda mais quente. O calor era o preço de presenciar um dia tão limpo quanto aquele.
Câimbras me maltrataram quase como nunca nesta descida, mas em cerca de 2 horas eu estava de volta ao lado da ponte "Indiana Jones" sob o Rio Cotia. Já estava nos meus planos passar e conhecer a Cachoeira do Saci na descida, que embora eu tenha estado próximo na ida ao Jacutinga, foi uma sábia escolha não conhece-la naquele dia. Em uns 30 minutos eu estava no cruzo que leva até ela, e foi cerca de uns 20 minutos até chegar á ela. A trilha é tranquila e com muito pouco desnível, sendo que no final são cerca de 200 metros por dentro do rio para chegar até ela. Como eu já suspeitava, ela é muito mais bonita pessoalmente do que por vídeos e fotos, e conta com um poço para mergulho que certamente será uma opção pro próximo verão.



























