Já fazia um tempo que o Jean havia comentado sobre alcançarmos um morro localizado entre o Morro dos Perdidos e o Pirizal, já avisando que na visualização de tridimensional de solo do Google Earth não ficava evidente o seu destaque. Vendo as fotos que tirei quando estive nos morros Baleia e Moreia, ficou mais claro o motivo do seu interesse. Ainda mais recentemente, quando estive no Perdidos e no Pirizal e pude ver pessoalmente este morro sem nome ou qualquer registro de acesso, quando também aproveitei para tirar umas fotos com o drone para ajuda-lo á melhor definir uma rota. Fiquei também sabendo por ele de que no ano passado já haviam feito uma leve investida neste morro, tendo chegado até um pouco além do Rio Campina Chata, que passa entre ele e o Morro dos Perdidos.
Chegado o domingo, partimos cedo de Curitiba e logo estávamos iniciando a pernada já próximo do cume do Perdidos. A recente ida ao Pirizal ajudou na rapidez do trecho fácil da aproximação por evitar pequenos enganos que ocorrem naqueles campos de capim amarelado. O contorno mais para o leste no campo próximo ao Pirizal, provavelmente com o intuito de evitar charco, nos alinhava com o início do trecho encoberto. Estranhei o quão aberto estava o começo, pela última investida ter ocorrido á um ano, e o trecho continuava consideravelmente aberto. Foi quando ele levantou a suspeita de que algum grupo poderia ter tido a mesma ideia e por ali terem passado posteriormente. A trilha desce até o Rio Campina Chata, onde aproveitei para reabastecer, e o beira brevemente, até sair nele por um breve instante, e retornar na mata em direção ao objetivo. Não muito além dali estava o limite da investida anterior, visivelmente interrompido, deixando claro de que não havia passado outro grupo ao menos por ali, e de que provavelmente o trecho ainda aberto havia apenas sido naturalmente bem preservado.
Dali em diante alternavam-se trechos de maior ou menor dificuldade de progressão, ele com o facão na frente, e eu com uma foice, que era mais usada para lutar contra as centenas de caraguatás afiados que estavam no caminho e para melhorar um pouco o trajeto para a volta. Por enquanto, praticamente nada de subida, até nos aproximarmos do início do descampado, onde havia o início da subida e onde os caraguatás apareciam em bando, antes de sairmos em céu aberto.
No trecho descampado demos uma breve pausa, onde comentei com ele á respeito da possibilidade de contornarmos o morro pelas áreas descampadas, para diminuir a dificuldade, á custo de se aumentar a distância. Ele preferiu manter o plano de subir pela crista, á menos que encontrássemos uma absurda dificuldade. Partimos em direção ao mais próximo cocoruto, que ficava dentro da estimativa e onde poderia haver alguma visão, onde ainda tirávamos bastante proveito do mato baixo que facilitava o avanço. Ao chegar no topo encoberto dele havia mais sufoco, onde o Jean estava determinado e sequer cedia a frente para eu ajuda-lo, então eu continuava apenas dando uma diminuída no imenso taquaral que persistia mesmo com sua passagem. Saímos então em outro descampado, que novamente foi um breve alívio, e seguimos adiante no próximo cocoruto, este que ele sugeriu para eu tomar a frente. Já haviam se passado aproximadamente 4 horas de trilha desde o estacionamento quando saímos no último descampado, este que já levaria ao cume. Ainda havia nele um trecho de mata um pouco ruim onde alternamos a frente, logo saindo e nos deixando acessar enfim a área superior. Notava-se o ponto culminante, sendo ele um topinho ao lado de outro menor, separados por um campo de um terceiro topo mais largo, este que provia uma visão melhor de Garuva, do Quiriri, do Piraí e da Pedra Branca do Araraquara, enquanto que no cume verdadeiro, boa parte coberto, acessamos umas pedras na face oposta, que serviu de descanso enquanto estávamos pasmos com a fantástica vista que se revelava para nós na direção do Morro dos Perdidos. Levamos 4:30h para acessar este cume, onde almoçamos e descansamos por quase uma hora.
O retorno foi bom até passarmos do último descampado e chegar ao vale que se aproximava do Rio Campina Chata. Lá tivemos pontos de dúvida ao tentar percorrer nosso mesmo trajeto anterior em áreas com mata de menor densidade, para evitar termos que reabrir uma rota quando chegássemos em pontos de densidade maior, que também eram vários. A volta além do rio era predominantemente subida até chegar novamente ao cume do Perdidos, subida esta que foi descontraída e embelezada por um fantástico pôr do sol que acendia o tom do capim, e que alternava as cores do céu até que o breu da noite enfim tomasse conta.