Eu admito que até ligar o motor e subir o Getúlio, a preguiça estava forte, fora do comum. Acordar 4 da manhã de um domingo gelado, após ter ido dormir após da meia noite, após um sábado corrido no trabalho de manhã e que teve o Pedra Branca da Serra do Salto a tarde. A previsão do tempo prometia céu nublado em Antonina e Campina Grande do Sul durante toda a tarde, após uma manhã de céu limpo, então havia a possibilidade das nuvens sentarem na serra no pior dos casos. Quinta feira eu havia faltado na academia por uma fraqueza súbita e febre, que atenuaram a minha também recente dor de garganta típica do mês de maio para muitas pessoas, dor que ainda acabou piorando no sábado. Contra todas essas coisas, ainda parecia uma excelente ideia fazer essa travessia no domingo. Obviamente não há explicação muito lógica para essa decisão. Mas acabou sendo uma das trilhas mais satisfatórias até agora, em um tempo em que ando até meio desanimado.
Acordar 4 da manhã tem um motivo, embora também fosse um bom horário para alguém mais lerdo iniciar o domingo para essa travessia. Mas no meu caso é que a logística da Travessia das fazendas necessitava de um segundo carro, e as opções eram meio limitadas. Acontece que soube de um amigo que estaria fazendo um ataque matinal ao Caratuva/Itapiroca e logo mandei a solicitação de favor, mesmo que ele estaria indo com o carro e a presença de seu chefe. Mesmo assim, deu boa. O pedido era que no caminho de ida deles, me buscassem na Chácara da Bolinha e me levassem até a Fazenda Rio das Pedras, onde iriam. Me reduziu uma volta e tanto caso tivesse que fazer uma travessia circular.
Comecei a trilha 6:30, comprometido á respeitar minha situação, com a garganta inflamada principalmente. O ar seco e frio á castigaria loucamente caso fosse exigido muito oxigênio, então fui na paz. Em 1:10 estava no Getúlio onde um mar de nuvens embelezava o visual. Havia uma aparência desde cedo de um dia melhor do que a previsão prometia. Até próximo da bifurcação com o Itapiroca, ninguém na trilha, oque era de esperar de um Dia das Mães (na minha família, este dia nos reunimos á noite), mas a surpresa foi uma trilha bem seca, onde mesmo pontos onde sempre vi cheio de barro e lama estava sequíssimo.
Fazia tempo que não ia no Itapiroca, e eu nunca havia pego um clima bem aberto lá. Chegar nele após a bifurcação Itapiroca/PP não demora, são pouco mais de 200 metros até as áreas de camping, e mais um curto trajeto até o cume, que muitos dos que visitam acabam dispensando. Lá o clima do dia se mostrou definitivamente promissor, e após uma beliscada no lanche e algumas filmagens, parti para oque seria o x da questão do dia, o trecho entre ele o Cerro Verde.
Na primeira vez que eu estive no Cerro Verde em 2020, encontrei um grupo que disse estar fazendo a Travessia das Fazendas. Deram a entender que o trecho do Itapiroca até ali era complicadíssimo, principalmente por estar bastante fechado. Alguns outros relatos que eu havia visto na internet também davam a entender que seria um trecho um tanto chato. Também citavam a necessidade de cuidado em relação á algumas gretas que haviam no caminho. Fazendo esse percurso sozinho, eu sabia que teria que ter cuidado redobrado. Mas na prática não foi bem isso oque encontrei: Ao menos atualmente a trilha está bem aberta, fitada, e tem um declive bem distribuído. Por sorte não estava nada úmido, pois naquele frio ficar encharcado como nas idas ao Pico Ciririca não ia ser uma boa. Na crista que se desce do Itapiroca, que bastante lembra a Trilha da Conquista (Caratuva>A1), surgem ainda mirantes espetaculares. Quanto ás tais gretas, só haviam duas ou três logo no começo da descida que não eram lá tão perigosas (no sentido de facilidade de ocorrer uma queda), e outra, já bem mais funda, no fundo do vale, mas que também basta o cuidado e atenção de sempre. Lá embaixo, a trilha seguia bem aberta e definida.
Não é uma longa subida até chegar ao cruzo da trilha do Taquaripoca. A trilha até ele é também bem definida, utilizando-se de muito cômodas áreas descampadas em uma lateral do Cerro Verde, com pequenas descidas entre eles (cuidado com as gretas nesses pontos, aqui sim podem representar algum perigo ao meu ver). Após o último descampado a trilha dá uma guinada para a direita, onde passa á ser encoberta, em um ponto onde o cume do Taquaripoca já se torna visível. Uma descida tranquila apesar de muitas raízes, e quando passa-se á subir, não demora muito para chegar ás áreas descobertas, e em seguida, ao cume, onde está um cano de PVC como caixa de cume, e um ensopado de caderno dentro dele. O visual que se tem é alucinando, tanto para o Conjunto Ibiteruçu/Pico Paraná, para o Cerro Verde e seu enorme paredão, e para o Meia Lua, com sua forma que justifica sua denominação. Ir e voltar do Taquaripoca não levou mais que uma hora.
Voltando para a bifurcação e tomando o caminho á esquerda, são apenas pouco mais de 300 metros até a trilha principal do Cerro Verde, um pouco mais lento em certa parte devido a vegetação mais dura. Dali é difícil não justificar uma ida ao cume, que é bem próximo e com pouca subida até ele, além de um visual recompensador, onde ainda encontrei um colega, amigo meu. Também deu pra dar uma olhada melhor no próximo objetivo.
Não demorou muito para chegar no local mais abaixo onde os tracks indicavam ser o acesso para o Meia Lua. Os dois únicos tracklogs disponíveis iniciavam por um descampado onde inicialmente não há indício de trilha, mas após alguns metros ele passa a surgir. E ao entrar em área coberta, evidencia-se a trilha de vez, levemente íngreme inicialmente. Visivelmente pouquíssimo frequentado, mas também um percurso onde houve clara intenção de definir a trilha. Passei abrindo melhor a trilha, e também há nelas algumas fitas vermelhas de vez em quando. Chega-se primeiro á um falso cume, mas o cume verdadeiro não está muito longe. Entre eles, sinais de raras passagens se misturam entre os campos, até se unificar na trilha novamente. O visual, pela quinta vez no dia, estava indescritível. Já num ritmo mais lento, agora devido aos primeiros sinais de cansaço, o retorno até a trilha do Cerro Verde tomou cerca de 30 minutos, o mesmo que levou para chegar ao cume.
Para chegar ao início da subida do Tucum, basta não errar na entrada para a trilha do Luar, e nem pegar o perdido pouco mais abaixo, no geral, tranquilo. Lá embaixo há um ponto de água não muito fluente, mas que com o Clorin foi uma benção. Subir o Tucum é menos tenso que descer, e não demora muito para ganhar considerável altitude. Após a pior subida, um breve platô antes da subida final. O cume vazio de ambos Tucum e Camapuã me fez lembrar que era Dia das Mães.
Descer pelo Camacuã foi novamente a minha escolha, dando ainda a oportunidade de ver o pôr do sol entre suas árvores. A descida constante dele até o Bolinha só não me pirou como da última vez porque resolvi ir acompanhado da minha playlist de músicas, fazendo a chegada até a base ser livre de ansiedade e encerrando essa aventura com uma bela energia.




















