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Salto Rosário, Feitiço e Inferno

              

 Meus três principais objetivos para a temporada de verão deste ano eram de certa forma um pouco superficiais em relação ao cachoeirismo paranaense aprofundado, sendo relativamente populares, mas também por conta disso, havia então neles a intenção de ter tido estas experiências, bem enriquecedoras para mim que estava mais habituado com o contexto de montanha, além de que representam desafios. O Salto Cantagalo foi o mais fácil, em que apenas a "perca de virgindade" em subidas de rios representava inicialmente algum temor injustificável, em seguida o Salto da Costela, popular por uma baixa dificuldade técnica por pelo menos boa parte do seu trajeto, mas exaustivo ao decorrer de toda a atividade, e por último as Cachoeiras do Rio Ipiranga, ou mais popularmente, os Saltos do Rosário, Feitiço e do Inferno, conhecidos por suas plaquinhas, por uma trilha mais difícil - ou pela ausência dela, ou pelo considerável risco de acidentes. Neste último domingo, foi a vez de encarar este desafio, na companhia do já conhecido Alex e do recém conhecido Miguel, que se acabaram sendo indispensáveis para que os objetivos fossem alcançados.
 Chegando no IAP do Porto de Cima, um pequeno estresse. As vans lotadas de turistas para acessar o Salto dos Macacos antes do horário limite de entrada pararam no meio do caminho antes da estrada tornar-se mais acidentada, ficando ali até a boa vontade dos turistas seguirem caminho e os motoristas deixassem a já formada fila fazer o mesmo. Neste dia, certamente foram várias centenas de pessoas no Salto dos Macacos, sendo também marcado pelo resgate de uma mulher que foi picada por uma cobra, possivelmente Jararaca, vindo á ser resgatada de helicóptero, não muito tempo depois de outro acidente assim nesta trilha.
 A caminhada segue até os portões da Usina Hidrelétrica do Marumbi, onde á direita do portão surge uma trilha, que percorre a cerca por um curto trecho até chegar ao Rio São João, onde já em linha reta há uma direção boa para atravessa-lo, e onde a trilha para o Salto Rosário continua na outro lado, até passar por dentro de uma cerca de arame farpado e seguir a trilha ao redor dela. É cerca de 1km até se aproximar do Rio Ipiranga, trecho este bem tranquilo e de plena caminhada. Diante disso, eu me perguntava a razão pelo qual os relatos até a trilha do Rosário citavam cerca de 2:30 de trilha até ela, já que aparentemente se tratava de uma trilha quase sem nenhum desnível. Mas logo no que começa a se andar á beira do rio, a razão torna-se evidente: A trilha é feita em terreno muito desfavorável, obrigando a passagem por obstáculos e contornos, até que em certo ponto desviamos de uma árvore caída, com certo risco de queda ladeira abaixo, onde pouco depois a trilha desapareceu. Já á um certo tempo sem olhar nos tracklogs, percebi ali que em algum ponto pra trás havíamos deixado a trilha e estávamos indo bem mais por cima, onde a ladeira até então nos impedia de cortar caminho e voltar ao trajeto correto. A ausência de noção das condições e formas de boa parte da trilha de baixo nos deu alguns problemas mais tarde, durante o retorno. Após um tempo de vara-mato, podemos chegar numa extensa cascatinha do tipo "escadinha", onde foi nossa oportunidade de descer tranquilamente para baixo até encontrar a trilha.
 Chegamos ao Salto do Rosário com exatas 2 horas de trilha, e imediatamente o volume de água da cachoeira me chamou a atenção. Estava mais alto do que em todas os vídeos e fotos que eu me lembre de ter visto, me fazendo lembrar dos comentários alertando dos riscos que o rio alto oferecia principalmente nos Saltos Feitiço e Inferno, razão pelo qual eu havia aguardado justamente por um final de semana sem chuvas recentes na região e acima, mas que pelo visto acabou não sendo o suficiente. O Salto do Rosário possui um poço gigantesco, fundo, e onde deve-se tomar cuidado também com a vazão de água para fora deste poço, que pode facilmente levar alguém rio abaixo.
 A trilha segue na lateral esquerda da cachoeira, onde fitas vermelhas, que não haviam até o Rosário, passam á guiar o caminho. Em certo ponto, elas levam ao rio, onde é possível ver de longe o Salto Serpentina. Procuramos, mas não encontramos por perto nenhum sinal de trilha ou das fitas na margem esquerda do rio, e como os tracklogs que eu tinha disponíveis que levavam até o Salto do Inferno atravessavam o rio neste ponto para passar a percorrer a margem direita, então ali atravessamos com cuidado. Eu sabia que um vídeo do Youtube mostrava estas cachoeiras sob uma perspectiva da margem esquerda, assim como encontramos a picada do tracklog do outro lado, decidimos ir adiante para ver no que dava. a picada por uma parte era boa e nos foi muito útil, até chegar na cabeceira do Salto Serpentina (que é o ponto do rio mais exposto quando visto por satélite). Vimos que na margem direita onde estávamos, paredões verticais de pedra na transversal do rio pareciam obrigar um contorno longo, então decidimos tentar atravessar o rio, sem sucesso, visto á grande possibilidade de sermos levados pelo rio, certamente até uma queda fatal no Serpetina, logo abaixo. A opção então foi fazer o contorno, sem sinal da picada anterior, até a parte de cima, onde chegamos ao Salto Arapongas, sem muita visão dele por conta das rochas que nos impediam, mas por onde pude esticar o braço com a GoPro para registra-lo. Mais acima dele, fica o Salto Anhangá, mas que só pudemos observar no retorno. São cachoeiras de grande dimensão e em bom volume de água, que de certa forma podem serem consideradas mais bonitas do que a do Feitiço, que talvez por ter sua plaquinha e sua dificuldade de acesso, acabe sendo mais almejada. 
 Após o Anhangá, o desvio por dentro da margem direita acabou sendo mais penoso, onde alguns sinais da picada alternavam-se com um vara-mato, até que já se aproximando do Salto Feitiço, ouvimos vozes. Encontramos saindo de lá um grupo indo em direção ao Salto do Inferno, onde ciente da experiência deles aproveitei para confirmar se eles haviam chegado ao Feitiço pela suposta trilha da margem esquerda, para que provavelmente voltássemos por ela, não só pela comodidade, mas para podermos observar melhor os 3 saltos anteriores, por onde as picadas da direita pouco privilegiam. Disseram que sim, mas logo perguntaram "Estão com corda? Se não, sem chance" pelo volume e força em que estava o rio.
 Isso complicava nossos planos de chegar ao Feitiço, já que a chegada até ele se faz por uma "última barreira" de grandes pedras e por onde escorre-se o rio com força, onde sobe-se estas rochas com o peito geralmente através do apoio humano, mas que com o rio alto, além de uma muito menor visualização das rochas submersas que servem como apoio e degrau, torna-se muito fácil ser levado pela correnteza e nocauteado na primeira cascata. Assim, a chegada pela margem direita do Feitiço foi de muita observação e tensão. Inicialmente, descemos ao rio por uma fenda por onde pudemos usar árvores muito bem posicionadas para descer, e em seguida usamos uma lisa, porém pelo menos não inclinada passagem pela direita para nos aproximarmos da "última barreira", onde tivemos que usar a parte superior de uma das paredes, onde havia aderência, para rastejarmos e aproximarmos ainda mais. Em seguida, a travessia do rio era obrigatória, pois do lado direito desta barreira é quase impossível subir, ainda mais naquele volume. Deixamos nossas bolsas e transportamos apenas uma menor e mais leve, com o celular do Alex, para que pudéssemos registrar o destino. após uma cautelosa procura com as pernas através da água torrente e ali ainda mais escura, consegui determinar um caminho, enfim para o ponto final antes da subida da barreira. Obstáculo após obstáculo, ficava sempre mais reforçado de que com determinação e cautela poderíamos chegar ao nosso objetivo, mas que não havia margem para erro, e que já prestes á termos fortes câimbras nas pernas, ainda poderíamos ser levados pelo rio, sem nenhuma garantia que a vítima poderia se agarrar em algo para se salvar. Obviamente que a chegada ao Salto do Feitiço não é tão incomum, mas que naquelas condições e sem cordas, poderíamos ter a terceira fatalidade registrada deste rio, após quase 80 anos da morte da estudante Freya Kreiling.
 Agora, faltava pôr os pés na muralha. O trecho de rio á ser atravessado é menor, coisa de cerca de 2 metros, mas com uma vazão maior que a anterior, justamente por ser um ponto afunilado. O Miguel me fornece apoio, quando no meio da passagem encontro uma rocha firme, com certeza a que é usada, oculta pela sobra da água. Consigo alcançar a muralha, onde instruo os outros na passagem, e por onde o Miguel nos fornece apoio com o seu próprio corpo, posicionando como uma barreira, para que conseguíssemos subir. Conseguimos enfim chegar ao Salto Feitiço, ou mais exatamente, na sua emblemática plaquinha "Salto Feitiço - 30-VI-1935", onde de longe é visto o Salto do Inferno. Se dali a visão é limitada, do caminho até o Salto do Inferno dá para vê-la de outro ângulo.
 Após retornarmos com segurança até o ponto onde encontramos aquele grupo, seguimos a margem direita, desta vez a correta, até o Salto do Inferno. De acordo com relatos que eu encontrei, a chegada até ele pela mesma margem esquerda que leva até o Feitiço não é possível, então em dias de rio mais cheio, não só a chegada até a plaquinha do Feitiço é comprometida, mas também a travessia do rio para ir até o Inferno. Dali em diante, a trilha é bem aberta, e com fitas amarelas á cada pouco. Chega-se á um ponto beira do penhasco, onde é possível ver o Feitiço por cima, apoiando-se nas árvores. Bem ao lado disso, deve-se passar por dentro de um curto túnel de rochas para seguir adiante, onde uma fita amarela numa árvore antecede a descida de um barranco até o rio. Deste ponto, tanto o rio e a névoa levantada pelo Salto do Inferno são visíveis, e pela beirada da pedra na direita deste barranco é melhor lugar para descer, com o apoio de troncos e de algumas pedras. Deve-se manter distância neste ponto, pois ainda há muitas pedras soltas ao decorrer desta descida, sendo qualquer uma delas potencialmente fatais para quem esteja abaixo. Ao chegar no rio, torcíamos para que o rio não fosse mais um problema, mas infelizmente não víamos muitas opções que não fossem perigosas. Mesmo após analisarmos as potenciais formas de avançar, acabei tomando uma das piores, talvez não tanto pra mim, mas principalmente pro Alex, que acabou me seguindo e após eu conseguir ultrapassar com sucesso, ele com sua estatura um pouco menor e com certa dificuldade com medo e ansiedade, acabou se colocando em situações muito tensas, enquanto eu só podia olhar e torcer para que ele se mante-se em pontos de aderência e conseguir retornar até um ponto muito mais tranquilo de passar, que o Miguel acabou encontrando quando eu já havia passado. Um último trepa-pedra e chegamos ao nosso destino final, o majestoso Salto do Inferno, que talvez pela dificuldade de acesso acabou ganhando tão infame nome, e que por mais azulado que o céu estivesse acima de nós, não era suficiente para tornar a queda de água menos do que um tanto obscura. Na parede direita, com a água um pouco além da altura do joelho, encontra-se a placa em homenagem á Anne Henkel, fotógrafa profissional que em companhia de seu marido Armin Henkel, eram autores de famosos postais das paisagens da Serra do Mar e do litoral Paranaense. No lado oposto, há uma cruz em memória da jovem Freya Kreiling, que morreu no local em 12/03/1944, cujo relatos contam que ao descer ao Salto do Inferno pela linha do trem (melhor descrito posteriormente) em grupo e tentar atravessar para a outra margem do Salto do Inferno com o apoio de uma corda em um dia de forte correnteza, sua calça acabou caindo, e num triste ato falho, ela soltou a corda para tentar segurar a calça. Ela acabou sendo arrastada pelo rio, onde após longos 14 dias depois, teve seu corpo encontrado por Eley Natal e Rudolfo Stamm, dois notáveis marumbinistas. Conseguiram transportar o corpo até a linha férrea, onde encaminharam para Curitiba para o sepultamento no dia seguinte. Nós não nos aproximamos da cruz, apenas á vimos de longe, para não correr desnecessariamente mais uma vez o risco de acontecer algo como oque levou Freya a morte.
 Combinamos de retornar em segurança redobrada. Tínhamos combinado de atravessar o rio uma última vez um pouco abaixo do Salto Feitiço, em um ponto antes uma hora antes observado. Sabíamos que o trecho até lá seria rápido e fácil, mas não contávamos que logo ali faríamos uma burrada monstruosa: Logo ao lado do barranco que descemos á beira da pedra, ou seja, do lado oposto da pedra, desce um barranco similar, cuja subida se inicia no mesmo ponto, mas que mais acima passa á ser dividido por aquela rocha vertical. Não nos atentamos á isso na hora da chegada, focados no nosso objetivo, e quando escalávamos, apenas nos estranhava uma sensação inconsciente de que aquilo estava ainda mais íngreme, e repleto de pedras soltas e perigosas. A ficha caiu quando vimos que esse barranco não fornecia a visão do Salto que víamos antes. Sabíamos que era melhor voltar, já que não havia a menor maneira de atravessar, e seguir acima era incerto e ainda mais perigoso caso tivéssemos que voltar. Neste ponto, demos distância entre cada descida, mas as pedras que desciam eram violentas o suficiente para causar um acidente grave, e eram muitas. Mas conseguimos pegar o barranco certo, visivelmente outro, por onde rapidamente chegamos ao topo, e assim á caverna, ao topo do feitiço e abaixo dele. Hora de atravessar o rio, e o melhor jeito era saltando entre duas rochas, sendo a de lá inclinada e ao pé da passagem do rio, mas que era suficiente para se agarrar e apoiar-se, e em seguida o nosso caminho "estaria ganho". Eu e o Miguel passamos sem dificuldade, o Alex precisou de um apoio psicológico para superar o medo de ser levado pelo rio, mas a coragem é fazer oque se sabe que precisa ser feito, e ali ele se comprovou mais uma vez muito forte. Na outra margem, onde logo a primeira (ou última) fita vermelha se localiza, faço questão da minha fala: "Cada segundo sem vermos essas fitas vermelhas é um motivo de alerta", como se eu prevê-se a dificuldade que teríamos. O problema desta margem direita (para quem desce) do Rio Ipiranga é que sua forte inclinação, principalmente ali próximo do Pico do Diabo, é formada através de fortes desfiladeiros. Caminhar em direção á ponto abaixo, ou geralmente acima de um desses desfiladeiros, implica na dificuldade de localizar a continuação da trilha, que depois de uma fita, poderia desaparecer subitamente, que para nós que tínhamos chegado pela outra margem, nos causava confusão. Para piorar, em alguns pontos próximos á último ponto de trilha marcada, encontramos até marcações com fita branca ou até vermelha, mas que nada conduzia adiante. Após tentativa e erro, cada vez mais exaustos, conseguimos passar do perdido mais forte, passando a acompanhar a trilha correta, com marcações frequentes na cor vermelha, sem dificuldade, mas através de um terreno muito diferente, e que eu diria pior, do que na outra margem. A trilha do outro lado, se consolidada, com certeza seria mais segura, aberta e fácil, embora não proporcione tão bela vista das cachoeiras entre o Feitiço e o Rosário. O Miguel chegou á citar ter ouvido falar na existência de uma trilha na margem direita que leva direto para o Salto do Inferno, que é provavelmente a que nós percorremos por parte do tempo, e cujos tracklogs disponíveis seguem, embora como citado, ainda tenha trechos que ela desapareça.
 O primeiro perdido da volta superado, e chegamos ao Salto do Rosário sem problemas. Nossa mentalidade era que "após o Salto Rosário, não tem oque dar errado", e pela maior parte, foi assim. O problema surgiu em certo ponto, após a cascatinha de água que descemos durante a ida, e que utilizamos para achar a trilha certa. Como agora na volta passamos por ela rumando a trilha correta, não sabíamos como seria o trajeto por baixo, embora não esperássemos surpresas. Acontece que ao se andar próximo do rio, chega-se um ponto onde há um paredão de cerca de 3 metros, onde na ausência de qualquer outro caminho, decidimos que talvez só por ali mesmo que deva ser a continuação da trilha, oque ficou evidente quando prestamos atenção e vimos uma pequena fita branca no galho em cima do paredão. Subimos, e logo o mesmo dilema surgiu novamente. O paredão levava até uma trilha bem aberta, mas que por algum motivo levava para a esquerda e para a direita. Para ambas as direções, a trilha sumia. Ao pé de outro paredão, este 3 vezes maior, eu me perguntei se talvez esse fosse o caminho. Este era menos íngreme, mas extremamente escasso de pontos de apoio. Descer deveria ser tão perigoso quanto subir. Imagino que talvez desbarrancamentos tenham tirado os poucos galhos e troncos que pudessem ser úteis. A subida foi tensa. Após momentos em que estive naquela apreensão de estar praticamente suspenso sem nenhuma aderência, prestes á escorregar, consegui chegar na parte de cima, encontrando a desgraçada do restante da trilha. Meus colegas tiveram a mesma dificuldade para subir. Umas das poucas árvores que davam o mínimo de apoio, que mesmo assim já estava caída, acabou sendo puxada e retirada por eles, ainda enquanto subiam a parede. Foi difícil de assistir e de ajudar, mas passado dali, finalmente parecia definitivo que o pior havia passado. Mais adiante nos encontramos com lugares já familiares, sabendo que havíamos chegado onde nada mais nos surpreenderia, e eu estava realmente surpreso com o quão desafiador tudo havia sido até então. De fato, como dito que a margem esquerda do Ipiranga é mais íngreme e acidentada, ela fornece as condições para que desbarrancamentos e quedas de árvores, que foram as causas dos nossos problemas na ida e na volta, dificultem mais as coisas.
 Mais adiante, a noite cai, e a exaustão toma conta de mim. Me forneçam um desconto: Foi uma semana puxada. Trabalho seg-sab, 5 dias bem focados de academia e o Pedra Branca do Ibitiraquire pela crista descampada no sábado. Namorada chegou tarde em casa e com o pé machucado, tive que dormir além da meia noite e sair de casa 5:30 da manhã. A conta chegou ali mesmo meia hora de caminhada antes da usina. Eu sabia que conseguiria terminar, afinal adiante a caminhada seria até revigorante, mas era ruim ter chegado neste nível de exaustão.
 Riachos, cerca da usina, Rio São João, cerca de novo, estrada de chão. É impressionante como a estrada IAT-Estação Marumbi é interminável mesmo quando se começa da metade. Ao entrar no carro, enquanto o Alex faz um lanche conversando com o Macuco e o Murilo troca de roupa no banheiro do estacionamento, dou uma respirada profunda e processo o dia internamente. Acostumado á fazer trilhas sozinho, reflito também o quão difícil é se preocupar pelos outros, principalmente pelas travessias de rio. Ao mesmo tempo, ficava claro o quão suicida seria ter feito sozinho, se a vontade de chegar nas desgraçadas das plaquinhas tivesse superado a razão. 
 O longo relato, com certeza o maior escrito até agora, serve para dar uma luz para eventuais trilheiros que almejam chegar ao Salto do Inferno (e outros) e conter minimamente eventuais dificuldades. Serve também como recordação, pois tais detalhes podem acabar fugindo da memória com o tempo. O meu conselho definitivo é ir com o rio no menor volume possível, evitando a temporada de verão, e enquanto a trilha segue com suas dificuldades de rota e de obstáculos, levar uma corda e ir acompanhado com alguém que conhece o trajeto, no mínimo até o Salto Feitiço. Sem querer parecer frescuragem, mas é porque nenhuma cachoeira, e muito menos o encontro daquelas placas deve valer mais que sua saúde e integridade.
 O caminho pelo túnel 10
 
É possível, e no passado era bem mais comum, acessar o Salto do Inferno através da linha férrea, especificamente antes do túnel 10, onde surge ao lado dele uma trilha atrás de algumas rochas, que leva á uma descida íngreme, consideravelmente mais íngreme e perigosa do que a que nós descemos pela outra margem, e que desce exatamente no ponto onde se encontra a cruz da Freya Kreiling (em algumas fotos, é possível ver um tipo de escadão de pedra acima da cruz, que é por onde é feito este trajeto). Este caminho acaba sendo rápido, mas que pela ausência de qualquer corda ou corrente no local (existe uma corrente antiga, enrolada e inutilizável na parte de cima) torna-a extremamente perigosa (conforme relatos de muitos que eu já conversei ou li á respeito), sendo altamente recomendado o uso de corda. O trajeto de ida ou volta por cima é uma opção disponível e algumas vezes já relatada, lembrando que também há risco com o trem durante a passagem do Viaduto do Carvalho, nas encostas do Morro Rochedinho. Obviamente não foi este trajeto que percorri, mas essas são as informações que pude levantar á respeito. 




Usina vista do Rio São João





Primeira queda do Rio Ipiranga: Salto do Rosário






Salto Serpentina, visto de longe. Esse é o ponto onde atravessamos o rio e passamos a andar pela margem direita. Como descrito, se passar á procurar melhor pela esquerda, bem próximo ao rio, encontra-se o restante da trilha da margem esquerda (fitas vermelhas)

Lateral direita do Serpentina

Morro Balança, com o seu temido "Escorregador"


Cabeceira do Serpentina
Em primeiro plano, rochas ao qual eu me referi como "última muralha/barreira". Todos os relatos que já vi utilizam estas 3 pedras centrais, e aquela no canto inferior esquerdo, para subir.




Salto Feitiço visto por cima


Descida final até o rio, para chegar até o Salto do Inferno, que é parcialmente visível daí

Salto do Inferno. Para se aproximar destas rochas que formam a sua própria "última barreira", o mais seguro é andar pela beirada da parede á direita, onde a água bate na cintura se achar os apoios submersos
Salto do Inferno. A placa da Anne Henkel se encontra na parede da direita





Desfiladeiro por onde é feito o acesso do Salto do Inferno via Túnel 10. Circulado em vermelho, está a localização da cruz em memória da jovem Freya Kreiling

Imagem retirada do blog maismontanha.blogspot.com/

Salto Serpentina, agora visto de perto e do retorno, na trilha da margem esquerda

Poção no rio. Se chegou nele durante a volta, retorne, pois deve subir os paredões citados no final do relato

Salto Anhangá

Salto Arapongas - Como este chegamos pela margem direita, não consegui registrar tão bem.