Era questão de tempo até me adentrar na ideia de seguir fluxos de água para alcançar um objetivo. O conceito é obviamente simples, mas sua progressão na prática é bastante variável, ainda mais que percorrer um espaço através de mata, pois nela variam a largura do rio, a quantidade, tamanho e dificuldade dos obstáculos ao decorrer dela, e também do fluxo de água, que como muitos sabem, precisa ainda de observações as vezes mais cautelosas quanto ao clima inclusive prévio da região onde se estará e de onde o rio vem.
A necessidade de subir o rio durante todo ou quase todo o percurso até uma cachoeira, geralmente é visto mais em cachoeiras pouco conhecidas do leste paranaense. É o caso do Salto Cantagalo, o Salto da Costela e o Salto do Inferno, mas também para lugares como o Rio Santana, Rio Marumbi ou o Rio Bromado, que pelos paredões ou barrancos que os cercam, obrigam seus aventureiros a subir rio acima.
Uma boa primeira experiência para isso seria o Salto Cantagalo, e eu estava ciente disso, escolhendo-o como o primeiro desta temporada em que pretendia também chegar ao Costela (já realizado) e o Feitiço/Inferno. Num domingo prometendo aquele mormaço matinal, vou sentido Estrada da Limeira, passando o limite por mim conhecido da entrada da trilha da Torre da Prata e indo em direção á pontezinha sobre o Rio Cantagalo, temendo que as condições da estrada se tornassem pior a cada minuto. Quando eu achava algum ponto um pouco mais largo na estrada em que eu poderia deixar o carro para seguir a pé, eu dava mais uma oportunidade e felizmente conseguia avançar adiante. Por mais que a Estrada da Limeira tenha seus trechos um pouco piores, ele ainda é trafegado por carros de altura normal por moradores da região, claro, evitando sempre que possível dias posteriores á muitas chuvas.
Inicio a caminhada focando no bom ritmo, almejando chegar ao destino em uma hora. São poucas as dificuldades, mas o cansaço não é como numa trilha normal. O equilíbrio é constantemente exercido acima da média, os passos são contra a correnteza da água, e a constante necessidade de traçar uma rota mais eficiente, sempre alternando-se na proximidade das duas margens do rio, tornam a distância mais exaustiva do que outras. Somados ao mormaço que já me cozinhava ás 9 da manhã, ainda que constantes banhos na cara e canela molhada, tornavam o caminho ainda mais puxado. Quanto mais acima, com o ganho de elevação tornando-se mais acentuado gradualmente, os obstáculos passavam á se tornar maiores, fazendo-me chegar ao objetivo com cerca de 1:40h.
A cachoeira é maravilhosa, isso eu já sabia, e assim chegar ali não causava nenhuma surpresa. O seu poço já me surpreendia positivamente, pois parecia ser bem maior do que eu havia observado nos vídeos e fotos. Já a profundidade não ultrapassa muito mais do que minha altura. Passei ali uma das minhas mais longas pausas da minha carreira de trilheiro até agora. Na hora de fazer umas filmagens aéreas, um erro bobo de pilotagem na hora em que encaminhava o drone para o pouso me faz levar um susto, com ele raspando em uma árvore, desestabilizando-se e caindo de uma altura considerável, visto que colidiu com a copa de uma das maiores árvores do entorno (por sorte não ficando preso) e tendo uma queda livre em uma das pedras á dois metros da minha posição. Por uma sorte rara, além de não cair em nenhuma das vários pontos de água ao redor, não danificou absolutamente no drone, embora tenha aberto diversos pontos removíveis de sua carcaça.

Antes de ir para casa, resolvi aproveitar a viagem para conhecer o famigerado Poço Azul de Morretes. Tendo passado muito tempo fechado e relatado apenas através de supostas invasões, passou á ter acesso pago por um valor baixo e convidativo. A manhã de céu azul virou uma tarde de céu nublado e com intenções carregadas, mas mesmo assim apressei a caranga e fui ao destino. A caminhada parte do lado esquerdo da casa de uma família que autoriza e cobra o acesso, e como prometido, o lugar estava um tanto abarrotado de gente. Após uma caminhada de pouco menos de 10 minutos, chega-se a beira do lagoa que já foi um ponto de extração de areia. A tonalidade da água varia em seus pontos de forma bem demarcada, e a profundidade torna-se súbita após apenas alguns metros da margem onde a maioria das pessoas se banhavam. Mas os rapazes que se desafiavam a atravessar até o outra margem, separadas por 60 metros de nado e com visível considerável correnteza, me dava a infeliz certeza de que esta concessão de acesso ia durar muito pouco. Já no final de semana seguinte, um rapaz de 18 anos morre na Lagoa Azul, dando fim ao acesso recreativo ao local, á ordem do estado. Embora não tenha realmente achado o local tão surpreendente assim, nem tão bom para os dias de calor, achei uma pena, pois acampar num dia de semana ali não teria sido tão ruim.



