Feriado de Dia das Crianças, previsão do tempo prometendo várias regiões com chuvas fortes e alta nebulosidade. Em Campina Grande do Sul, havia uma chance. Mas como muitas vezes o nublado da área urbana vira o impossível na serra, dependia de ir lá e ver as condições com os próprios olhos, e caso não fosse bom, era só ir até o próximo retorno e voltar para casa. A garoa leve e com cara de estável não intimidou frente á Serra do Ibitiraquire suficientemente limpa, ainda mais que o meu objetivo, o Camacuã, muitas vezes escapa de estar encoberto. Nenhuma alma viva na Fazenda do Bolinha, além claro, dos seus moradores, e logo parti pra cima. A garoa leve, mata molhada e suor fizeram da minha camisa de manga comprida uma caixa de água, mas enquanto a temperatura é a mesma, vida que segue, mas ao sair da área coberta da trilha e iniciar a subida da rampa do Camapuã, o caldo engrossou. O vento forte abalava o equilíbrio e a temperatura, e como sempre, a rampa cobra algumas paradas para recuperar o fôlego, que era bom para se esconder atrás de algum mato que fechasse o vento. Chegando no cume, toda a serra estava bem aberta, e por algum motivo, foi muito bom ver o Pico Paraná um pouco mais de perto novamente. Mas uma chuva vinha lá da Serra da Bocaína, e parecia certo que ela chegasse antes de eu alcançar o cume do Camacuã. O Camacuã foi utilizado durante a primeira ascensão até o Camapuã, e a atual trilha principal que passa pelas plaquinhas talvez tenha sido uma escolha por facilitar o acesso de outras trilhas, como o Ciririca ou ou o Pedra Branca do Ibitiraquire. Na internet, havia apenas dois registros do Camacuã, ambos de 2020, de dois conhecidos meus, o Pavanelo e o Nerio, que haviam feitos percursos próximos mas distintos. Quando eu iniciei a descida do Camapuã sentido Camacuã, oque eu definitivamente não esperava era encontrar uma trilha bem visível e bastante demarcada, até com fitas refletivas. Cheguei rapidamente até o sub-cume do Camapuã, que eu já havia visto um relato de uma montanhista que foi até lá e acreditou que aquele era o Camacuã. A trilha continuou e logo eu já estava atravessando o pequeno vale á seguir, ainda surpreso com a existência da larga trilha. O Camacuã possui uma vista bacana para os morros e montanhas, desde os Capivaris e o Taurepã, até uma pontinha do Pico Paraná, visto por de trás do Itapiroca. Começando á pingar e com cara de que aquela chuva ia chegar com força, resolvi checar se a tal trilha poderia seguir adiante rumo á Fazenda do Bolinha, palpite que se demonstrou certo. Conversando na fazenda mais tarde, confirmei a minha hipótese de que essa trilha teria sido aberta por razão de montanhistas de primeira viagem no Camapuã que pudessem ter se confundido com a direção na hora do retorno, e em vez de descerem para á esquerda sentido Pedra Branca/plaquinhas, acabaram se confundindo com o cenário semelhante e desceram reto, sentido Camacuã, certos de que lá estaria a trilha encoberta da qual eles teriam saído mais cedo. Pouco adiante, surge um belo mirante á beira de um pequeno cume adjacente ao Camacuã, e tempo depois, cheguei á uma bifurcação de trilhas, em que á esquerda levava até a Fazenda do Bolinha, e á direita levava até uma propriedade vizinha, no caminho chamado de "Trilha dos Cavaleiros". Este trecho está bem marcado com fitas, para não gerar dúvidas neste ponto.
Pico Ciririca e Agudos. Ao fundo, Torre da Prata
Pedra Branca do Araraquara, e demais serras da região - Farinha Seca, Marumbi e Baitaca
Porção mais frequentada da Serra do Ibitiraquire
Falso cume do Camapuã em primeiro plano, e ao fundo, Camacuã
Cume do Camacuã logo a frente
Camapuã e falso cume, vistos do Camacuã
Pico Guaricana
Silhueta da Serra dos Capivaris e do Morro Taurepã
Pico Ferreiro e seus falsos cumes
Pico Ferraria
Taipabuçu
Caratuva e Morro Amaryllis
Caratuva, Itapiroca, Amaryllis e uma pontinha do Pico Paraná
Já que a ida ao Camacuã acabou se tornando uma travessia circular inesperada, eu tinha tempo e energia sobrando para mais alguma coisa. Indo sentido para o IAT - Pico Paraná, havia um pequeno morro, o Pedra e Pinheiro, que eu estava para dar uma passada. Chegando lá, resolvi adiar o cume para quando coletar mais informações, dada a quantidade de avisos que havia no local e a visível presença de um proprietário que ficava no meio do caminho até o morro. Aproveitei a proximidade para conhecer a Cachoeira do Rio Ribeirão Grande, conhecido mais como Cachoeira da Fazenda Pico Paraná. A trilha para ela se inicia no canto direito da propriedade, no sentido de quem vai iniciar a trilha para o Getúlio, mas basta seguir o som do rio para localiza-lo. Passa por algumas cascatinhas, mas é com cerca de 10-15 minutos de trilha que chega-se á queda principal, de bom tamanho, águas douradas e um pouco escuras, e um poço suficiente para um banho, que pela temperatura do dia não chegava á me tentar esta experiência. Saindo de lá, havia ainda tempo e energia suficientes para mais alguma coisa, e como eu havia alguns tracklogs baixados, escolhi dar uma passada na crista norte do Capivari Mirim, trilha compartilhada pelo Jean e que segundo ele, já havia um tempo desde a sua última passagem. Chegando na base do morro, escolhi estacionar na igrejinha, por não ser um local tão inseguro, e subi a pé até a trilha, ao invés de pagar o estacionamento. Foi uma decisão baseada na minha falta de certeza na existência de um caminho que liga-se a trilha oficial com o começo da crista norte, mas logo no começo da trilha, já encontrei uma rota, e com um pouco de dificuldade devido á quiçaça, cheguei até á propriedade onde aquela trilha se inicia, que é uma plantação de pinus. Segui a trilha, mas não muito longe, quando acaba a plantação e se inicia a subida pela crista, a trilha estava intransitável. Ao menos por satélite percebe-se que o caminho que existia desapareceu (estando visível só alguns trechos lá mais para cima, quase na junção com a trilha principal), mas eu esperava que ao menos pessoalmente seria possível, mas sem sombra de dúvidas seria necessário abrir uma trilha totalmente do zero. Insisti mais alguns metros tentando achar qualquer brecha ou caminho, mas nada, só piorava. Embora fosse interessante ter uma alternativa á trilha principal, acho que seria um esforço pouco justificável, dado á proximidade que ambas possuem. Um mirante localizado antes da junção desta trilha com a principal, e por conta disso provavelmente ainda acessível pela parte de cima, seria um acréscimo interessante para uma posterior ida ao Mirim.
Cachoeira do Ribeirão Grande, conhecida como Cachoeira da Fazenda Pico Paraná
Cascatinha ao lado de uma das casas, no caminho do estacionamento do Capivari Mirim