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Pico Jacutinga - Serra do Ibitiraquire



  O baú de montanhas e cachoeiras acessadas pela Fazenda Lírio do Vale não poderiam passar mais um ano sem ser aberta, e nesse começo de clima de verão surge uma oportunidade de rachar uma ida até boa parte da trilha do Jacutinga, tido como um dos mais difíceis dali. A fazenda é mais conhecida por dar acesso á Cachoeira do Saci, mas é ponto de partida também para a exaustiva trilha da face leste do Ferraria, ás chamadas "Janelas" da Conceição e da Cotia (além de cachoeiras e cascatas nos rios com os mesmos nomes), ao Pico Saci, á Picada do Cristóvão, á via de escalada "Mar de Caratuvas", e mais recentemente, á trilha do Pico Paraná via Cotia. 
 Fui convidado pelo Jean para conhecer uma cachoeira visível por imagens de satélite acima do Salto Saci, cerca de 600 metros acima da caixa de acúmulo de água, que já faz parte da ida ao Jacutinga. Eu sugiro á ele que nós dividamos a viagem e que cada um alcance seus objetivos, e domingo, antes do nascer do sol, partimos de Curitiba em companhia do Alex, que também esteve conosco na busca da Cachoeira do rio Tupitinga. Partimos da fazenda 7:50, e 8:15 chegamos na cerca aberta que leva ao Salto Saci. Pouco mais de 100 metros antes de chegar ao Rio Saci, uma entrada um pouco mais discreta á direita nos encaminha para os aquadutos, que são uma parte um tanto divertida da caminhada, mas que merecem atenção, pois podem estar escorregadios ou sujeito á rompimentos. Chegamos 8:55 na captação de água, com uma hora desde o início da caminhada. Dali nos separamos, sendo que após o término da atividade deles, que duraria menos do que a minha, me aguardariam na fazenda ou em algum comércio no bairro.
 A trilha do Jacutinga possui sempre as mesmas descrições quanto a sua dificuldade. Visto de cima, o trajeto após essa passagem do Rio Saci se assemelha á um "L". A primeira metade possui grande dificuldade de orientação, com poucas fitas, a maioria estando mais ao começo ou ao final, árvores caídas por toda a sua extensão, picadas aleatórias que levam á pontos de mata densa que obrigam um retorno, enfim, um trecho mais exaustivo psicologicamente do que fisicamente, já que o ganho de altitude ainda não é muito considerável. Se comparados os tracklogs disponíveis, percebe-se o quanto esse trecho de pouco mais de 1km é confuso.
 O final desta primeira metade praticamente se dá por uma caminhada á beira de um paredão de pedra do qual pinga água (como ocorre no vale das lágrimas no Marumbi), seguido por uma subida com uma corda larga tipo "fita". Nesta segunda metade as fitas de marcação são constantes, embora pouco necessárias. A trilha é bem aberta e única deste ponto adiante, percorrendo oque parece ser uma crista. Mas se aqui a exaustão psicológica fica só ao pensar do retorno na metade anterior, a exaustão física mostra as caras aqui. Não que seja um enorme ganho de altitude ou grau de inclinação, mas na minha ocasião, a trilha fechada, com diversos cipós e galhos que obrigavam á "subir com mais força" e ás vezes subir agachado, somados com a quase certeza de que pegaria o cume encoberto por nuvens, tornavam a subida cansativa. Embora fosse um dia um pouco quente (cerca de 25º), a vegetação morro acima estava úmida devido á nuvem que encobriu a montanha nas primeiras horas do dia, tornando o ambiente mais fresco, mas me encharcando. Em certo ponto um falso cume é visível através das árvores, e ao chegar lá, o cume real é visível, desta vez mais perto, e após ele é necessário mais alguns minutos até o mirante, onde situa-se a caixa de cume recentemente instalada. Foram 5 horas de trilha, sendo que quase metade da distância é percorrida até a caixa de captação de água/Rio Saci em uma hora, e as 4 horas restantes foram para o restante da trilha.
 As nuvens estavam pouco acima do mirante, assim sendo possível visualizar só o vale abaixo entre o Jacutinga e o Saci, e a direção norte, onde fica a Janela da Conceição, onde o sol batia. Minutos depois, tive a sorte das nuvens se afastarem mais, permitindo uma visão completa do Saci e Sacizinho, do Taipa visto através do vale do Saci e do Ibitirati, e de boa parte do paredão do Ibitirati, embora infelizmente não completamente, mas com certeza melhor do que estar lá depois do esforço e pegar o cume completamente fechado. Com o drone também foi possível ver um pouco da face oposta do Jacutinga e daquele lado de Antonina e Guaraqueçaba, como também da Antena localizada á certa altura do Jacutinga, e do morrinho onde está a "Terceira Antena do Ciririca". Parti do cume 13:30, percorrendo a primeira metade da descida do "L" em pouco menos de uma hora. Eu esperava conseguir na volta identificar melhor uma possível trilha mais definida durante a metade restante, principalmente neste primeiro 1/3 da volta, onde os tracklogs evidenciam que se trata de um trecho mais complicado, mas acabou sendo mais complicado do que na ida. As árvores caídas, a vegetação variada que encobria rastros e por vezes levava á abrigos feitos por pedras e troncos sem passagem, e trilhas que faziam se afastar no percurso, temendo que alguns discretos sons ao redor fossem de uma onça disposta á atacar a presa aparentemente perdida e desacompanhada, fizeram da experiência de chegar novamente ao rio uma euforia. Era 16:30, e eu sabia que se ainda estendesse a caminhada mesmo que pouco para conhecer o Salto do Saci, eu acabaria terminando a trilha no começo da noite se quisesse aproveitar o mínimo daquela cachoeira, e os deixaria com uma pulga atrás da orelha quanto á minha integridade, já que com certeza não estimavam minha volta além da luz do dia. Então segui direto até a Fazenda, encerrando a trilha 17:10. Grato em fazer, mas não ansioso em repetir...