
A experiência não muito agradável dos perdidos no Pilão de Pedra, do encontro com um caçador armado intimidador, e de algum animal de porte médio próximo indo á nossa direção pelo mato ao redor, não me animaram á visitar aquela serra novamente em 2021 para ir aos cumes restantes daquela trilha que se inicia no Viaduto dos Padres. Mas ela estava lá e o seu troféu aguardava minha visita. Desistências habituais e o meu nobre amigo Matheus é quem sobrou para me acompanhar. A previsão do tempo oscilava muito entre nublado e sol entre nuvens para o domingo, oque me preocupava com a chance das nuvens se aglomerassem na subida da serra, impedindo qualquer vislumbre do céu e do mar naquele domingo. Por sorte, a realidade se mostrou bem favorável para nós. Partimos cedo e ao chegar na cerca do cantinho da curva do viaduto, um SUV compacto branco no canto anunciava que não seriamos os únicos naqueles picos neste domingo, embora não cheguemos á encontra-los, pois com certeza passavam o dia no Pilão de Pedra durante nossa ida ao Pico X e Primeiro de Maio. Mais tarde, descobrimos que este grupo de 4/5 montanhistas eram um dos dois grupos envolvidos na recente ascensão ao Pico dos Três Pontões, na Serra da Virgem Maria, e que haviam feito a subida pelo lado Paulista. Adentramos a mata naquele oculto portal, e não demorou para ficar claro o quanto a trilha havia sido bem mais frequentada e demarcada neste último ano. A quantidade de fitas demarcando o trajeto beiravam - ou passavam - do exagero. Algumas fitas esticadas isolavam a entrada de uma ou outra picada errada, louvável, mas em certo ponto, três fitas estavam na mesma árvore. Brinquei que logo seria uma árvore de Natal, embora não seja bem um exagero.
O começo da trilha é como eu me lembrava: Um aclive mais forte inicial, e que pesava um pouco para o meu companheiro, que embora iniciou o Montanhismo comigo, se afastou por muito tempo e agora demonstra uma forte repulsa em passar seus domingos no seu PC Gamer. Mais adiante a trilha passa á ser mais tolerável, juntamente com o corpo quando passa á trabalhar melhor com o esforço demandado. A trilha, de uma vegetação linda e preservada, encanta muitas vezes e revigora as energias quando a subida passa á exigir novamente. Algumas árvores caídas no meio do percurso não chegam á ocultar a trilha, e após algumas passagens por riachos, vejo os pontos onde me perdi na ida ao Pilão de Pedra (um na ida, outro na volta, na minha primeira ocasião utilizando tracklogs, e assim nada experiente com seu funcionamento na prática), agora mais abertos e bem demarcados. Chegamos ao riacho por onde pega-se o caminho á direita para seguir em direção ao Pilão de Pedra, direção que não chega á ser marcada por fitas logo ali, mas um pouco mais adiante, para não confundir os que tem como destino o Pico X. Para o X, a trilha segue na outra margem, logo chegando á uma cascatinha que é um ótimo ponto de água, e por onde a trilha segue bem perto da queda de água. Deste ponto adiante a trilha passa á ser mais tranquila, de uma caminhada que permite um grande aumento da velocidade da passada.














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| Bifurcação Pico X/Pilão de Pedra |

Chega-se á um mirante, onde temos a certeza que acertamos o dia em cheio para estarmos lá. Um mar de nuvens em toda a região litorânea nos aguardava no momento que chegássemos ao cume. Deste mirante, torna-se visível o Pilão de Pedra, o Pico e a Serra da Igreja, e o nosso objetivo por hora, o Pico X, mais adiante, mas não muito mais alto que nós. Também ali, bem próximos, a Pedra das Gretas e o Cocoruto, assim chamados em uma exploratória do Jean di Santi, que tratarei de visitar um dia.
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| Pilão de Pedra visto do mirante |
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| "Cocoruto" |
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| "Pedra das Gretas" e ao fundo, Pico da Serra da Igreja |
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| Pico X visto do primeiro ponto aberto da trilha |
Pouco adiante, tratei de identificar a entrada (bem visível) do Primeiro de Maio, morro de pequena elevação em relação á trilha, já que esta passa já próximo do seu cume. Seguimos empolgados em direção ao X, na trilha tão aberta e demarcada em diante que praticamente não deixa margem para dúvidas (mas não pise nesta serra sem GPS e carregado de tracklogs confiáveis), e passa-se á descer antes da subida final ao pico. A subida logo passa á ser em torno de uma baixa vegetação de altitude, permitindo-nos novamente á apreciar o mar de nuvens que nos aguardava. Próximo do final da trilha, chega-se á um mar daquelas "árvorezinhas" baixas, geralmente na altura do peitoral á cabeça, que com seus galhos duros nos locomovemos com uma certa força do ódio.



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Eu olho para a minha esquerda e o troféu está ali, acima de algumas pedras, olhando para nós. Descemos até uma área coberta logo antes deste cume, onde trepamos por estas rochas e é necessário alguns saltos entre elas para alcançar enfim o lugar junto ao emblemático artefato metálico que anatomicamente nos obriga á levanta-lo para acima de nossas cabeças. Dali, além do que já era visível no mirante anterior, uma grande área de Morretes e Paranaguá era visível, assim como a Serra da Boa Vista, a da Prata, a do Marumbi, da Farinha Seca e do Ibitiraquire. Esta visão panorâmica, em conjunto com o belo dia que acertamos, nos presenteava com uma minhas melhores perspectivas da Serra do Mar Paranaense até então. Vale citar duas áreas de camping: Uma um pouco maior, próxima ao cume e em direção á Matinhos/Serra da Boa Vista/Serra da Prata, que por ter aquela vegetação baixa de altitude permitia várias barracas, e outra pouco antes do cume, logo ao lado de onde ele se torna visível, com espaço para algumas poucas barracas. Chegamos ao cume após 3:30h de trilha, com boa margem para melhora em bom ritmo, mas vale lembrar que o tempo para chegar á este cume costuma chegar até 5 horas, então, se este for o seu objetivo, não deixe de reservar um dia inteiro para conhece-lo.

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| Serrinha em primeiro plano, e ao fundo, Serra da Prata - Torre da Prata |
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| Serra da Boa Vista |
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| Serras na região de Guaratuba. A mais alta á direita é o Pedra Branca do Araraquara |
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| Imponente Pico da Serra da Igreja |
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| Pilão de Pedra e Primeiro de Maio, visto do Pico X |





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| Toca do Duente, visto de outro ângulo |
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| Área de camping logo antes do cume do Pico X |
Após merecidas fotos, vídeos e lanches, partimos para o início da volta, já que o Primeiro de Maio também estava para sair da trilha neste dia. Chegando até a bifurcação já observada antes, a trilha pouco após tentava sumir, mas identifiquei-a logo em seguida, com o apoio do GPS. Após um trecho de área aberta, ela volta á descer e passar por um pequeno vale coberto, onde ocorre um comum engano, como eu fiz: Há uma trilha á direta, que leva á um sub-cume/extremidade leste do Primeiro de Maio, onde é necessário saltar de uma rocha á outra, por cima de uma altura consideravelmente perigosa. Após ter feito o salto, e seguir um pouco adiante, que olhei melhor ao redor e no GPS, e me dei conta que estava neste sub-cume, embora ainda existisse vestígios de trilha, provavelmente enganos idênticos, até ali. Retornamos, e naquele vale identifiquei uma verdadeira escadinha no solo do lado oposto que tomamos, e por ali chegava-se logo ao cume do Primeiro de Maio. O destaque deste local é a visão que se tem para Morretes, para o Pico X e principalmente para um cume situado logo antes do X, o chamado Toca do Duende, com seu formato bastante característico.

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| Toca do Duente e Pico X, vistos do Primeiro de Maio |
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| Pilão de Pedra, visto do cume do Primeiro de Maio |


Dali em diante era só voltar para o viaduto. Ao que se aproxima da rodovia, a descida da trilha nos obriga á colocar o câmbio no neutro e ganhar velocidade, e quando o som das motos e dos caminhões passa á ecoar dentro da mata, sabe-se que está prestes á ser jogado por aquele portal de volta á civilização. Creio que o alívio de um montanhista ao encontrar o carro ainda com suas rodas e com seus vidros intactos seja bastante comum, e foi muito forte naquele momento. Enquanto descansávamos um pouco no carro antes de pegar a estrada, percebemos que um casal saltitante parou o carro do outro lado do viaduto dos padres e desceu animado para á parte debaixo do viaduto quase nunca frequentado, e ao nos ver dentro do carro com os vidros abertos mais adiante, fingiu que estavam de bobeira e retornaram ao carro, partindo em seguida. Mais do que voltar para casa com os objetivos devidamente cumpridos e com uma boa parte do domingo restante, ainda tínhamos a certeza que havíamos impedido uma foda. Hora de ir para casa, tirar os carrapatos.

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| Entrada para a trilha que leva ao Pilão de Pedra, Pico X e Primeiro de Maio |