Em Abril deste ano enfim conheci o Pico Paraná, após muitas datas marcadas que acabavam sendo interrompidas seja pelo clima, seja pelas companhias que deixavam de poder acompanhar. Fui sozinho mesmo, quando na verdade meu objetivo era ir para o Camelos, e ao chegar no acampamento A2 onde se inicia sua trilha, resolvi ir direto para o PP, algo que eu já pretendia fazer apenas quando eu fosse para conhecer todos os seus sub-cumes restantes. Em Julho, parece que companhia já não é o mesmo problema de antes. Fechei um carro para me acompanhar nesta ideia, sendo que dois me acompanhariam em um ataque apressado, e os dois outros fariam também um bate e volta, mas no seu ritmo.
Subi o Morro do Getúlio em 43 minutos, meu melhor tempo para esse emblemático tempo, mas com uma margem para reduzi-lo consideravelmente, já que algumas vezes ainda segurava o ritmo para aguarda-los. O visual obrigava uma parada mas logo seguimos adiante, passando pelas plaquinhas que dividem o Caratuva do PP e mantendo o bom ritmo através de todos os obstáculos e da subida entre esse ponto e a bifurcação com o Itapiroca. Dali em diante, conseguimos também manter um ótimo ritmo até o primeiro ponto aberto e descampado, ao A1 e ao início dos grampos. Passamos reto no A2 e nos distanciamos um pouco mais uns dos outros á partir dali. Alcancei o PP em 2:45h.
Para quem nunca foi ao PP, uma boa forma de resumir o trajeto e tornar sua distância mais tolerável é incluir checkpoints. Inicia-se a trilha na Fazenda Pico Paraná ou na Fazenda Rio das Pedras (e em seguida passando no trailer IAT, neste caso), sendo que eu tenho forte preferência pela Rio das Pedras, embora não seja mais econômico caso vá fazer alguma trilha dali sozinho. O início do Getúlio, conhecido bem representativamente como Morro do Desisto, faz jus ao apelido, iniciando-se com uma escalaminhada média, mas suficiente para cansar aqueles que não estão habituados a sair da inércia e ir diretamente para uma subida, sem antes aquecer o corpo. Chega-se primeiro até uma pedra á direita da trilha que fornece uma visão da área abaixo de onde se veio, e mais adiante há outra pedra, agora mais alta e á esquerda da trilha, onde é possível subir e ter novamente essa visão. Desta segunda pedra em diante, a trilha passa á ser mais leve. Passa-se pelo Lago Morto, á esquerda da trilha, último checkpoint antes da chegada ao Getúlio. Após este cume, chega-se ás plaquinhas, e após ela, o percurso passa á ter diversos obstáculos, pedras, raízes e alguns grampos, além da própria subida, e onde chega-se á uma bica de água. Mais adiante, chega-se á uma plaquinha mais simples que divide a esta trilha com a do Itapiroca, onde deve-se seguir á frente. Deste ponto o PP já começa á se tornar visível, e passa á ser descida, embora ainda com muitos obstáculos, chega-se logo á primeira área aberta e descampada, ao A1 e á crista que liga o Caratuva ao Conjunto Ibiteruçu, e mais abaixo, aos grampos/via ferrata, também conhecido como Paredão do PP. Após esta subida, não muito maior que a dos grampos do Anhangava, chega-se ao Acampamento 2 - A2, onde inicia-se a subida final ao Pico, através de sua crista lateral. Do cume a vista não decepciona, onde é possível ver as cidades de Paranaguá, Antonina e Morretes, as principais serras do montanhismo paranaense, além das montanhas da Serra do Ibitiraquire ao redor.










Após uma breve pausa, logo iniciamos a ida ao nossos próximos objetivos, o União e o Ibitirati, que formam o restante da famosa silhueta do Pico Paraná. Entre as caratuvas, vários caminhos se unificam até uma que segue em direção á esse pico, mas ainda sendo recomendadíssimo seguir um tracklog, já que as direções próximas levam á paredões não tão amigáveis á descida. A trilha oscila com algumas descidas íngremes de pedras, onde os apunhados de caratuvas servem como um apoio indispensável para descer, e o União rapidamente não está mais abaixo de nós. A subida final deste pequeno cume se dá por uma área fechada, e após 10 minutos da saída do PP, estamos no União.







Seguimos ao Ibitirati onde após uma pequena descida estamos subindo denovo, agora necessitando de algumas paradas para recuperar o fôlego, e abusando do uso das caratuvas como sempre. Chegamos ao Ibitirati 10 minutos após o União, e sua vista um pouco mais limitava não era nenhum motivo para não passarmos um bom tempo ali. Quando iniciávamos a volta, soube pelo rádio que nossos outros dois colegas chegaram no cume do PP, após 3:50h de subida.









A trilha do Tupipiá se inicia aos "fundos" do cume do PP, por onde encontra-se infelizmente um banheirão, com diversos papéis higiênicos largados no chão como se fosse assim que se lidasse com as coisas num lugar como esse. A trilha até o Tupipiá é visível por toda a sua extensão, embora passe por algumas bifurcações que não levam á nada, obrigando acompanhar atenciosamente o tracklog as vezes, e também não é fitada, além de mais fechada em alguns pontos. A descida é como se espera dela, bastante íngreme, sendo que as caratuvas servem como nunca de apoio para a descida. Também há um trecho de uma corda um tanto lisa para ajudar em um ponto ainda mais íngreme. Como a subida é forte, não demora muito para que o Tupipiá já esteja logo á frente, e após um trecho coberto, iniciamos a sua descida, que é bem simples e rápida. Ao chegar praticamente no cume, há uma bifurcação em T, em que á esquerda leva ao seu cume real, embora coberto e onde não está sua caixa de cume, e á direita, que leva até uma rocha onde ela está, junto com a melhor vista deste cume, que se resume ao paredão sul do Pico Paraná, ao Camelos, e aos picos Ciririca e Agudos. É necessário cuidado ao redor da caixa de cume, pois é um espaço pequeno, e com uma morte certa á frente. Chegamos ao Tupipiá em cerca de 30 minutos, indo em bom ritmo.



Avisamos nossos companheiros no PP pelo rádio e iniciamos a volta, e a subida pelo trecho que havíamos acabado de descer sugaria todas as nossas energias, já que mesmo utilizando as caratuvas para nos puxar para cima, o restante da vegetação era mais mais transponível para quem desce, sendo as vezes uma muralha para quem sobe. Chegamos ao PP muito mais exaustos do que gostaríamos, e com a água praticamente esgotada, já que afinal estávamos com mochilas de ataque. Demos um ar e iniciamos a descida bastante molengas, mas foi na subida após os grampos em que o corpo começou á dar alguns sinais de cansaço da longa semana, da trilha e da sede que nos abalava. Chegamos ao riacho pouco após o A1 e coletei água, onde inseri o Clorin para filtra-la após alguns minutos. Subi até a bifurcação com o Itapiroca já mais revitalizado e dali em diante a descida rendeu de vez. Fim do dia na Fazenda Rio das Pedras, e de muito longe ouvíamos nossas camas clamando pela nossa presença.







