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Bico Torto - Serra da Prata



  A Serra da Prata possui formas que atiçaram a vontade dos que uma vez no litoral paranaense, na região da atual rodovia BR-277 ou em outros picos da nossa Serra, viram, principalmente na Torre da Prata, um novo objetivo. Possuindo outros cumes na sua formação bem retilínea no sentido sul-norte, o mais conhecido além da Torre é o Pedra Queimada, morro facilmente identificável próximo da rodovia 277 pelo seu paredão de rocha escura, com uma trilha que se inicia em uma propriedade na localidade conhecida como Morro Inglês. Na mesma casa onde se inicia esta trilha, haviam também marcações no Wikiloc para um outro cume desta serra, muito menos conhecido e frequentado, o Bico Torto.
 Após uma publicação sobre este morro em um grupo de montanhismo no Facebook, acabei fechando a companhia com o montanhista Jean Di Santi, que também tinha o Bico Torto entre seus objetivos. Ele sugeriu uma outra rota para chegarmos até ele, por uma crista que se inicia próximo do caminho para o Salto das Andorinhas, também em Paranaguá, e que ele já teria percorrido. Esta crista levaria até o metade da trilha disponível no Wikiloc, com uma discreta redução de distância, mas que poderia ser uma caminhada interessante.
 Partimos do ponto marcado em Curitiba para o local onde deixaríamos o carro, com o dia nublado mas dando sinais de mudança. Chegamos em uma casa onde o Jean já havia conversado com o morador da última vez que fez o percurso da crista, e com uma gentil prosa, nos contou da enfermidade que o atinge em sua perna, e que o limita á continuar por suas andanças mato acima. Seguimos a estrada de chão que segue adiante de sua casa, agora já se separando do caminho que leva até o Salto das Andorinhas, e mais adiante passamos por um portão de uma casa, com uma passagem liberada para pedestres á esquerda. Caminhamos mais até chegar em um breve campo aberto, e logo novamente em área coberta. Logo ali, a crista começava, e começamos á subir. Após andarmos por alguns minutos por uma mata de fácil progressão, achamos uma trilha bem pisada e aparentemente recente, que parecia vir bem próximo de onde adentramos a mata. Uma surpresa que fez o facão ser definitivamente descartado, já que subia a crista até a trilha mais consolidada para o Bico, sem muito esforço - apenas alguns pares de árvores caídas. Quando nos aproximamos da unificação, o caminho se tornou um pouco mais confuso, e cortamos um pouco o caminho até chegar ao que claramente era a trilha. Na volta, contornamos esse pedaço para chegarmos até a trilha da crista por uma área de mais fácil passagem, mas tudo isso se resume á alguns poucos metros. A trilha mais consolidada chama a atenção por ter sido aberta nas encostas do morro ao que pertence a Pedra Queimada, e não por sua crista, algo que levou o Jean, mais experiente em exploratórias, á se impressionar pelo quão difícil deve ter sido para abrir esta rota. Para nós mesmos, esta parte do percurso também oferecia dificuldades, com alguns trechos um pouco expostos á quedas baixas mas que devem ser feitas com cuidado, muitas árvores caídas (mas que não escondiam o trajeto), áreas de rochas úmidas, como se formassem o topo de cachoeiras secas (que merece cuidado), e ao chegarmos de fato na subida do Bico Torto, dois trechos de escalada com corda, um mais curto, com uma corda do tipo fita para subir uma rocha que surge á direita de quem sobe, e outra já mais próxima ao cume, com uma subida por um trecho bastante íngreme, com cerca de 10 metros, pouquíssimo apoio e uma corda fina e com poucos e insuficientes nós. Este foi o trecho que mais pegou para nós, pois demandava atenção e trabalho mútuo, tanto na subida, tanto na descida. A trilha adiante seguia bem marcada e dando sinais de que o cume não estava muito além, e por vezes dando alguns alívios na vegetação e no aclive. Quando acaba o trecho de floresta, anda-se mais alguns metros até chegar na área mais descampada, e seu cume está logo á frente. A recompensa foi uma linda vista panorâmica da região, que embora não totalmente sem nuvens, ainda mostrava em destaque Paranaguá, a Torre da Prata e a Serra da Boa Vista.
 Após registrarmos bem o local e um breve lanche, iniciamos a descida sem pressa, já sabendo que o trecho da corda nos aguardava, mas descemos sem a mesma dificuldade de antes. A volta foi regada á prosa, agora acertando mais os trechos da crista. Foi uma boa tirar o Bico Torto da lista de restantes, já que os cumes mais "misteriosos" são os que criam mais ansiedade pelos segredos que seus percursos podem esconder.