Travessia Samambaia, Anhangava, Corvo e Pão de Loth
Eu aguardava citar os dois morros mais "famosinhos" da região metropolitana quando algo mais "entusiasta de montanha" estivesse realizado para valer o relato. É claro que a travessia entre os morros era o motivo certo. Não me lembro de ter prestado atenção no Morro do Corvo até conhecer a existência de uma trilha que liga os dois morros. Mas ficava evidente pelos tracklogs que a trilha aparentemente mal existia, dando a entender que era um vara-mato guiado pela bússola. Travessias são motivos de grande aguardo e ansiedade nesse ano, e após a travessia dos Capivaris sair da lista, o final de semana seguinte já prometia um bom clima para subir o Anhangava denovo. A caminhada iniciou pela trilha do Anhangava, mas não muito tempo já andava em solo ainda não trilhado. Em certo ponto surge uma entrada á esquerda, pouco depois de passar pelo ponto de água principal da trilha. Essa entrada se forma á 45º de inclinação, indo para o sentido oposto á subida do Anhangava, e por alguns minutos é de uma leve descida com solo rochoso e trilha bastante demarcada. Chega-se á uma rua, bem ao lado de um portão, e deve-se seguir a trilha do outro lado. Segue-se mais adiante até chegar em uma outra rua, onde uma passa-se por uma placa indicando que o caminho por onde você veio chega até o trailer do IAP. Segue-se á direita por esta via, chegando até uma bela casa á direita, bem protegida por diversões cães que devem tornar a estadia do proprietário bastante barulhenta nos finais de semana. Logo ali, retoma-se á trilha propriamente dita novamente, visivelmente bastante frequentada. A trilha até o cume do Samambaia segue-se em geral de forma bem tranquila, com subida constante, mas raramente mais inclinada. Logo que a vegetação torna-se um pouco mais baixa torna-se visível a Represa do Iraí ao oeste, assim como a cidade de Curitiba. A Serra do Ibitiraquire e o Farinha Seca são os próximos, e em seguida o cume do Anhangava está logo á frente. As filas nos grampos da subida do Anhangava são impressionantes quando vistas da subida deste morro. A área no topo do Samambaia é o típico tipo de lugar que seria impossível uma pessoa tranquila acampar, caso fosse permitido. Em seguida, uma curta subida em uma área coberta e logo os paredões do Anhangava cobram um último preço pela montanha, com um grau de inclinação maior mas que é rapidamente conquistada, e diretamente ao seu cume final. Ali mesmo, duas entradas aos "fundos", verdadeiros banheiros públicos, são o caminho para o Corvo. O cenário após os papéis higiênicos usados encanta e com muita atenção deve-se identificar desde o começo o caminho correto.
Á esquerda vai para a trilha do Samambaia, e a direita segue-se ao Anhangava
Represa do Iraí e cidade de Curitiba
Primeira visão do cume do Anhangava visto da trilha do Samambaia
Cume do Samambaia
Samambaia visto do cume do Anhangava
Pão de Loth visto do Anhangava, assim como o restante da Serra da Baitaca. Á esquerda, Serra do Marumbi
Daqui em diante, o uso de tracklogs torna-se necessário, já que mesmo pela trilha que parecia aparente, e com fitas amarelas um tanto constantes, demos conta que havíamos saído um pouco da rota dos tracklogs que eu possuía. Andamos um pouco pelo mato até chegar na trilha correta. Dali em diante a trilha suficientemente visível e com fitas nas bifurcações em que surgiam qualquer sinal de dúvida deixavam o caminho tranquilo. Algumas janelas mostravam o Morro do Corvo conforme nos aproximávamos dele. São percorridos cerca de 1.4km descendo aproximadamente 150 metros de altitude. Retoma-se a subida, onde no começo da subida uma ramificação bem aberta porém errônea leva á uma clareira onde a trilha meio que tenta se dividir em duas, prováveis erros de grupos anteriores, mas pouco antes identifica-se o caminho correto á direita de quem vem. A subida adiante passa á ser como á do Anhangava, por um pequeno trecho de solo de pedra, por onde a vista do Anhangava atrás impressiona pelo quão rápido a distância até ali foi percorrida. Mais um trecho fechado á seguir até que chega-se á duas rochas, uma pouco mais acima da outra, que é o ponto final do Corvo, embora um pouco abaixo do cume. Um cano de PVC guardava dois cadernos ensopados, onde a maioria dos poucos registros citavam a execução da travessia, e não a mera ida ao Corvo. Não me recordo da data do registro mais antigo, mas é provavelmente do fim de 2020 ou do começo do ano seguinte. Dentre os relatos, um deles de poucos meses atrás citava que a trilha adiante teria recebido um reforço na abertura. Hora de parar para um lanche antes de seguir adiante e colocar o drone para lutar contra o forte vento.
Primeira visão do Anhangava, após o começo da subida do Corvo
"Caixa" de cume do Corvo
Pico Marumbi e parte da Farinha Seca visto por drone
A trilha á seguir está em geral bem demarcada, com fitas relativamente constantes. Mas mesmo nessa fase ela possui características que reforçam que assim como na descida até o Corvo, tracklogs confiáveis são indispensáveis. O primeiro caso foi novamente estar seguindo a trilha normalmente e chegar num ponto onde ela não acabava em nada. Retornamos e fomos á uma bifurcação mais secundária que acabou por ser o caminho correto. Dali em diante alguns trechos demandavam mais cuidado, com solo desbarrancado um pouco em algumas laterais mas sem muito risco, um pequeno ponto com corda para auxiliar a descida de uma úmida rocha, e mais alguns trechos onde o uso de raízes nas laterais com as mãos auxiliavam descidas mais súbitas. Ao chegar num trecho onde passávamos por um fraco ponto de água, as fitas iam um pouco mais adiante e uma passagem reforçava se tratar do caminho correto. Logo o caminho fechava-se tanto por bambus que era impossível se tratar mesmo do caminho correto após passar por lugares tão abertos pouco tempo antes. Retornando até a última fita, nada, e nem mesmo até outra anterior. Porém, já no ponto de água os tracklogs indicavam que o caminho á ser tomado era á direita, e então decidimos segui-lo. O caminho porém passava longe da aparência de ser frequentado, e ao custo de seguir corretamente os 3 tracklogs consistentes entre si foi necessário que nós cortássemos caminho por um curto trecho bem fechado, até encontrar um curto vestígio de trilha que bem coberto da baixa vegetação ao seu redor ao menos seguia para a direção que os tracklogs indicavam. Pouco mais adiante as fitas retornavam ao seu papel, e as suas cores passavam á variar do amarelo de sempre. Apesar dos perdidos, o ritmo desde a descida do Corvo foi boa e constante, facilitado por uma trilha até que razoavelmente boa, que deve mudar a média de avaliação das próximas marcações no Wikiloc. Mais adiante o Pão de Loth torna-se cada vez mais visível, e a visão do vale entre os dois, onde sua trilha principal passa, instiga á descer ainda mais rápido. Para variar, mais um perdido, onde a trilha começa á contornar para á esquerda onde os tracklogs denunciam o equívoco, outra um pouco mais para á direita e de repente seguindo reto, mas por onde o gps novamente aponta que ainda não é o caminho, e por fim, retornando um pouco e indo agora para a direita, identifica-se enfim o caminho.
Mirante com vista para o Anhangava e o Corvo
Pão de Loth passa á ser visto várias vezes durante a descida
Após analisar todos os registros dessa trilha, um curioso trecho era muitas vezes citado, por onde era necessário abaixar-se e até se rastejar por algumas dezenas de metros por debaixo de bambus. Após estar tão próximo da trilha do Pão de Loth, eu já dava como certo de que essa trilha que percorremos era na verdade um caminho novo e que talvez os tracklogs que continham essa informação deveriam ser de um trecho anteriormente usado. Mas de repente o fatídico trecho surgia á nossa frente por onde eu até cogitei ser mais o fim de uma trilha errada, mas ao me agachar e olhar mais adiante logo vi uma fita amarela em um dos bambus. Como eu esperava, acabou sendo um dos trechos mais legais de fazer do trajeto. Pouco adiante o cenário muda e torna-se aquela vegetação vista na trilha do Pão de Loth, e após mais uma caminhada em que as vozes dos que ali á frente estão sempre parece estar á 5 metros de distância, e chega-se á trilha principal. Ali uma fitinha de sacola pendurada na vegetação do outro lado dá um sinal para quem deseja fazer o caminho contrário ao nosso de que ali se inicia a trilha, já que sua entrada não é muito evidente.
Começo da trilha que sai da principal do Pão de Loth até o Corvo é bem discreta
A entrada para o Pão de Loth está á um sopro de distância, e após mais de uma hora descendo, a subida dele pode parecer mais cansativa do que o normal, mas como em qualquer travessia, o corpo logo entende. O cume do Pão de Loth é logo alcançado e a melhor vista do dia nos aguardava, não só pela vista em si que é o meu favorito dentre os outros, mas o belo dia favoreceu bastante. Ver o Corvo e o Anhangava dali era ainda mais satisfatório.
Placa na bifurcação Itupava - Pão de Loth
Restante da Serra da Baitaca, visto do Pão de Loth. Cenário de uma futura travessia, não inédita, mas sem dúvidas rara.
Serra do Marumbi parcialmente encoberta
Serra da Farinha Seca
Ibitiraquire e Farinha Seca
Represa do Iraí e Curitiba
Anhangava e Morro do Corvo
Trilha do Pão de Loth é uma rua em alguns trechos
Pão de Loth visto da trilha
No momento que cheguei ao cume, acabou que éramos os únicos ali no momento, tirando um casal que estava um pouco mais abaixo, numas rochas, aparentemente arrumando suas coisas para voltar. Iniciamos á volta e logo passamos por um grupo de pessoas que no telefone pareciam estarem se comunicando com o IAP, e poucas horas depois já estava viralizando entre os grupos de montanha o vídeo daquele mesmo casal fazendo uma fogueira em pleno vento forte ás duas e meia da tarde de um domingo, no Pão de Loth, naquele exato ponto onde estavam quando eu os vi. O grupo no celular foi quem os gravou e enquanto comíamos um pastel no final da trilha, o infeliz casal chegava acompanhado de voluntários de conservação até o trailer do IAP, com certeza para uma multa ainda bem mais cara que o churrasco que tentaram fazer lá.