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Pico Paraná + Camelos



  Um domingo promissor para montanha me obrigou á tirar um nome da lista que não poderia sob hipótese nenhuma passar mais um ano lá: O Pico Paraná, o qual seus atributos todos provavelmente já conhecem, sempre fugia dos meus planos, seja pelo clima, por desistências, ou compromissos. O bom de se habituar á fazer trilhas sozinhos, é que quem depende sempre dos outros para cumprir esses objetivos, deve no mínimo se habituar com adiamentos. O ruim, claro, é estar mais á mercê de vários riscos. Sabendo disso, chamei um ex colega "oficial" de trilhas de algum tempo atrás, que com certeza não iria deixar de conquistar o Pico Paraná para se embebedar mais uma vez. Mas foi exatamente isso oque ele fez, sem ao menos avisar, como de praxe. 
 Na verdade meu plano mesmo era ir apenas ao Camelos, pois não estava me sentindo fisicamente apto para fazer o PP + Camelos de ataque. A idéia por completo era o seguinte: Pegar um bom domingo para fazer o PP, Camelos, Tupipiá, União e Ibirati de ataque, que levaria cerca de 15 horas. Para tornar o objeto mais compacto, resolvi adiantar o camelos para uma ida só para ele, mas logo vi que como sua trilha se iniciava no A2, eu dificilmente ignoraria o fato de estar á apenas 1 hora ou menos do PP e deixaria de conhece-lo de uma vez.
 Iniciei a trilha na Fazenda Rio das Pedras ás 8 da manhã, e o frio que inicialmente atrapalha para aquecer o corpo, logo vira aliado. O ritmo se adequa bem e alcanço o Morro do Getúlio em 50 minutos. Não que fosse uma média impressionante, mas pelo menos demostrava que minha sensação de baixa aptidão física para trilhas era só na teoria. Visto isso, focava constantemente em manter o ritmo e não parar para nada, chegando na bifurcação do Itapiroca em 1:20. A partir disso eram terras desconhecidas, e a recompensa iniciava-se logo á frente, com uma vista animadora do objetivo. 

Trilha para o Morro do Getúlio




Pico Caratuva


  Pico Taipabuçu


Pico Itapiroca


Morro Amaryllis    
 
Taurepã, Serra do Capivari, e cume do Guaricana. Em primeiro plano, Morro do Arreio


Serra da Bocaína


Em primeiro plano, Morro do Arreio. Aos fundos, Capivari Grande, Guaricana, e Ferreiro

Pico Ferraria


Bifurcação Pico Paraná/Itapiroca








A partir da bifurcação com o Itapiroca iniciava-se uma descida, que seguia até uma primeira área aberta, que eu pensei ser o A1. Ali, passei á andar constantemente ao lado de um grupo de jovens militares que também iam em bom ritmo sentido ao Pico. A descida segue, auxiliando um ritmo constante, com paradas apenas para registrar as paisagens que mereciam horas de admiração. Chego ao A1 verdadeiro, e sigo á frente, atravessando uma larga crista que forma uma ponte até o paredão. Chegando lá, saco a GoPro da bolsa e é hora de ver do que se trata os tais grampos do PP. Á essa altura do campeonato, já tendo se pendurado em muito tronco para subir morro acima, os grampos desse paredão são um passeio no parque. Mesmo assim, merecem atenção e cuidado, pois ainda mais em dias com bastante barro como era o caso, os grampos tornam-se ainda mais escorregadios, não só por sua própria forma, mas pela maneira como estão distribuídos, sendo necessário muitas vezes esticar uma perna um pouco para cada lado. E ganha-se rapidamente altura suficiente para que qualquer falha se torne fatal. 






Paredão da trilha do Pico Paraná

                    

Mas o trecho não demora muito, e logo a escalaminhada toma conta, dando um pouco de fadiga para quem acaba se habituado na 1 hora de descida constante anterior. Chega-se á um mirante á beira do precipício, em frente ao pico, cada vez mais perto. O A2 está pouco adiante, e é uma área muito maior que o A1, separado em diversas partes que acomodam muita gente, e que deve abrigar muita farofagem. 

Uma das áreas de camping do A2


Pico Camelos visto do A2, onde começa sua trilha

Sigo adiante, passando por mais uma pequena área de camping á esquerda com lugar para umas duas barracas, e a direção passa á se alinhar com o objetivo. A subida de fato cansa, e com a temperatura já bem mais alta, algumas paradas são indispensáveis. A trilha passa á se dividir um pouco em alguns trechos onde há muitas rochas no caminho, e é preciso atenção para não se desviar muito do centro da crista que passa a se formar, e acabar se expondo á riscos nas extremidades. O cume adiante é um falso cume, que com certeza engana a maior parte dos que vão lá. Ao chegar nele, se tem um pouco a impressão de que o cume ainda está um pouco longe, mas é pura impressão. Uma rápida descida e já sobe-se denovo, agora, diretamente ao cume. A chegada ao Pico Paraná é um tanto mágica, pela forma como chega-se de repente, e não passando por alguma vegetação de cume, ou escalando alguma pedra, como é frequente pelas trilhas por aqui. Eu sempre ouvi algumas pessoas dizendo que a visão do Pico Paraná, ou seja, ele visto de outros montanhas ao redor, seria mais bonito do que a visão de lá de cima, mas eu particularmente discordo. Lá de cima é como se o mundo todo estivesse abaixo de você, mesmo que a diferença de altitude dos picos Caratuva ou Ferraria seja tão pouca em relação á este. A vista lava a alma, liberta as idéias. Alegra só de lembrar. Ao ver que o ataque foi feito em 3:40h, um tempo aparentemente bom, só conseguia pensar no tempo que faria em um dia destinado completamente ao tempo, com uma mochila de ataque, e agora já sabendo oque esperar de cada trecho do percurso. 






Camelos visto do Pico Paraná
Pico Ciririca/Siririca
Torre da Prata
Baía de Paranaguá
Em primeiro plano: Cerro Caraguatá, Siri, Luar (o mais extenso, ao meio) e Cerro minguante. O cume mais próximo, na direita e um tanto agudo, é o Taquaripoca. Mais á direita, quase fora da foto, Cerro Verde, e aos fundos desse, pode-se avistar o Pedra Branca do Ibitiraquire. Nos fundos, Serra da Baitaca.
Luar, Minguante, Taquaripoca, Cerro Verde, Pedra Branca, Tucum, Camacuã, e uma parte do Camacuã.
Pico Ferraria em destaque, mostrando sua rota de acesso pela famosa crista leste. Também visível Ferreiro, Guaricana, Taurepã e Serra do Capivari
Pico Taipabuçu e Serra da Bocaína aos fundos
Pico Caratuva

Pico Itapiroca

União e Ibirati

Área de camping mais "aos fundos" do cume do Pico Paraná





 Muitas fotos e vídeos depois, parto para o próximo objetivo, o Camelos. Eu utilizava a princípio o aplicativo Osmand, que se baseia no OpenStreetMaps. Ele sempre possuia em seus mapas confiáveis trajetos das trilhas mais populares (e algumas nem tanto), mas dessa vez, me levou á um breve engano. Ele mostrava que a trilha do Camelos se iniciava entre o A2 e o paredão, oque de início eu estranhei, pois vendo os tracklogs, lembrava que ela parecia partir do A2. Mas como o aplicativo nunca havia feito nada assim antes, confiei, vendo á perceber o erro ao chegar no local. Retornei ao A2, de onde há uma das melhores vistas do objetivo, e comecei á procurar pela entrada. Acabei achando mais abaixo, pela direita, que seguiu bem por um tempo, mas que acabou me levando á um mar de caratuvas altas que não dava em mais nada. Hora de recorrer aos tracklogs, vindo á perceber que a trilha estava mais ao lado. Resolvi cortar caminho pelas caratuvas, que chegavam á ficar ainda mais densas e altas em certo ponto, mas acabei chegando na trilha. Ela é bem demarcada, e passa por alguns sobe-e-desce (onde inclusive há um ponto de água ruim, seguido por um outro que é melhor), onde duas vezes é necessário um trepa-pedra segurando-se em alguns galhos bem pouco confiáveis. No topo de um desses morrinhos do caminho, já numa vegetação típica de cume, escutei o som de abelhas e uma certa quantidade delas nas plantas ao redor, retornando rapidamente e cogitando abandonar o objetivo que estava logo a frente. Resolvi esperar um pouco e voltar com atenção, e não estavam mais lá. Última descida e cheguei ao que seria o cume, embora percebi lá naquelas rochas de que o próximo cume possuia uma caixa metálica, sendo teoricamente aquele o cume verdadeiro. Mas me parecia que a altitude de ambos era a mesma ou até que aquele era mais baixo, e que a caixa de cume estaria lá por ser uma área bem menos arriscada do que aquela onde estava, que por estar sozinho, não havia problema de espaço.

















 Hora de uma pausa para um lanche, muitas fotos e de fazer o drone voar, e em menos de 15 minutos já estava na trilha denovo, agora com o objetivo de voltar para casa. O ritmo já era outro, não tanto pelo cansaço, mas decidido á curtir um pouco mais a experiência. Após a chegada ao Getúlio, logo me animo e passo á descer da forma como a trilha ali praticamente nos obriga, correndo. Chego no final da luz do dia e o resto da volta será sentado bebendo uma coquinha gelada.