Foi em 2019 ou 2020 quando vi um vídeo no grupo "Montanhas e Trilhas do Paraná" de um grupo fazendo a travessia dos Capivaris. Até então, também pertenceu á eles um dos poucos - de contar nos dedos de uma mão - tracklogs á respeito, e essa travessia nunca saiu da minha cabeça, e permaneceu por muito tempo na minha lista de trilhas á fazer. Quando fui ao Capivari IV e V via mirim, já havia alcançado todos esses cumes, e oque faltava agora era a tão esperada junção.
Para fazer a travessia completa, eu tinha duas opções para alcançar o V e o IV, uma sendo novamente pelo mirim, e outra seria pela trilha própria deles, e seguir á frente adiante. Caso escolhesse a segunda opção, seria um trajeto por mim ainda desconhecido, com frequentação questionável, e consequentemente talvez seria um trajeto lento caso estivesse bastante fechado. Também não sabia muito sobre seu acesso, visto que á julgar pelas imagens de satélite, iniciava-se pelo que parecia ser uma propriedade particular. Mais tarde, já conhecendo um contato do local, ele me informou que a trilha estaria "suja" devido á baixa frequentação do começo da temporada. Mas é claro, que se fosse para encerrar a serra, nada melhor do que passar pela trilha até então desconhecida, independente o quão fechada ela estivesse. Além do mais, sair do Capivari Mirim, para ir até o V e voltar até a bifurcação Mirim-Médio, também era questionável.
Consegui o contato do Nilton, um morador das casas por onde mais adiante a trilha se inicia. Ele garantiu meu acesso, utilizando a entrada para pedestres do portão logo perto da rodovia, embora não sei ao exatamente do que se trata ali, se é sempre aberto, ou se as casas são da mesma família ou proprietário. Eu só sabia que esse Nilton teria um dos responsáveis pela abertura desta trilha até o IV, que foi liderada pelo Jean di Santi, em e exaustivas jornadas e muitos intervalos até enfim a conquista por esta crista.
Marcado o dia, fui bem acompanhado: Maykon e Heleno que me acompanharam fortemente na trilha da Torre da Prata, Bruno e Julian, que já me acompanharam em uma série de trilhas, e alguns novatos - porém com boa aptidão física - com quem jogo futsal á quase um ano. Saímos de Araucária ás 5:30 de domingo, com a previsão prometendo um dia propício para uma travessia dessas. Deixamos um carro na frente do portão do início da trilha, e o outro no Posto Alpino, ao pé do Capivari Grande, para o fim da travessia. Retornando ao primeiro carro, iniciamos a trilha seguindo a rua adiante, por uma estrada imediatamente íngreme. Somos cumprimentados pelo morador de uma pequena chácara mais acima, que disse que o Nilton teria o avisado da nossa vinda. Seguimos á rua adiante onde diversas vezes paramos para apreciar o mar de nuvens atrás de nós, com vista para a Serra da Bocaína. Ao chegar em uma casa em construção mais acima, me dou conta de que estávamos mais á esquerda do tracklog, e víamos a crista já se iniciar á direita. Portanto, nós tínhamos passado pela entrada correta da trilha alguns minutos atrás, e após procurar alguma entrada ao redor dessa casa que fosse até a crista, mas sem sucesso, retornei e pedi para o grupo esperar o meu sinal, e logo ao encontrar a entrada, os chamei. A trilha se iniciava após um trecho em um campo aberto em que se andava na diagonal, e já de imediato se mostrava um caminho bem aberto. Não havia chance de erro, afinal, dali em diante era uma crista até o V. A manhã fria e os corpos ainda acordando levaram um tempo até se habituarem á subida, embora não faltassem rochas no caminho para se sentar. Entre nossa equipe, um iniciante e fumante levou mais tempo para se adaptar, e um dos com um pouco mais de experiência tinha dificuldade em prosseguir, tendo que parar devido á uma queda na sua pressão sanguínea, e ambos tiveram dificuldade em lidar com o fôlego durante todo o dia, embora terem resistido e encarado o desafio até o final, embora eu tenha sugerido para que, se quisessem, retornassem pela trilha tradicional do mirim caso achassem melhor.






Logo a Serra do Ibitiraquire se tornava visível, e a cada pequeno mirante no caminho parávamos para ver mais adiante na paisagem. A vista de um cume á direita da subida, provavelmente o do meio dos três que existem ali, se aprofundou na minha mente e com certeza será o motivo do meu retorno um dia. Os três morrinhos á esquerda, por onde o acesso pelo rio Capoeira ou até pelo cume do Capivari Mirim sejam duas alternativas, logo também estavam próximos de nós. Chegamos ao cume do V com aproximadamente 1:30 de trilha, e não permanecemos por mais que um minuto, visto que o IV estava cerca de 10 á 15 minutos adiante. Agora o caminho se dava por algumas voltas, passando por lindas florestas 3 vezes, até sair "por trás" do IV. Ali uma pausa mais longa, para comer e para botar o drone para trabalhar.









Logo identificando a trilha bem á frente de nós, para o vale entre o mirim e médio, seguimos caminho, por esse trecho onde na minha primeira ida ao IV tive uma leve dificuldade em identificar o caminho correto, dada as muitas picadas secundárias que haviam naquele mato por vezes espinhento. Dessa vez, parece que essas picadas erradas tinham começado á desaparecer, sobrando apenas um caminho bem aparente até o recomeço da floresta abaixo. Mais adiante a trilha se tornava de lenta progressão, pois diversos bambus se cruzavam e deixavam a trilha, embora evidente, de difícil passagem, mas em curtos trechos, pois depois a trilha voltava a ser aberta e algumas fitas davam certeza do trajeto. A subida até o colo entre o mirim e o médio se torna um pouco mais íngreme e escorregadia em alguns pontos, mas até então, nada de difícil. O mirim estava logo ali e seu cume como sempre estava repleto de gente, mesmo com o sol bem no centro do céu. Uma hora de pausa para um bom almoço e descanso. Aponto para a montanha mais longe e deixo claro que aquele será nosso ultimo objetivo, ainda depois de alcançar o braço mais distante do Capivari Médio á nossa esquerda, e sugiro que desçam os que não se sintam aptos no dia para completar a travessia. Sem julgamentos, afinal, todos ali estavam se sentindo um pouco fora de forma. Mas todos acordaram naquele domingo dispostos á seguir até onde fosse preciso. Então seguimos para o Médio por sua trilha bem demarcada e fácil, onde chegamos em cerca de 20 minutos. Tivemos apenas que aguardar mais 10 minutos para a chegada da dupla mais lenta, que para se retomar depois do almoço ainda tiveram que se esforçar, e que para piorar, passaram por um breve perdido e por uma queda (tínhamos contato com eles por rádio).






















Dali para frente seria o grande mistério, o trecho dito como o mais difícil, fechado e confuso da travessia. Logo á partir da saída do médio, a trilha estava bem aberta, e logo adiante começaram á aparecer fitas. Em certo momento, houveram dúvidas sobre qual caminho á seguir, se seria reto ou á esquerda, mas logo um companheiro identificou que pouco antes e á direita estava bem aberto. Chegando ali, a trilha estava aberta de vez, e passou á ter fitas largas e bem recentes, que praticamente não eram necessárias de tão aberto que o caminho estava adiante. Ela segue até o final do "braço" que segue ao leste do Médio, de onde é possível um última vista ao redor, antes de começar a decida ao norte rumo ao Capivari Grande. Dali em diante a descida de pouco mais de 200 metros de altitude se inicia, com inclinação variável, mas algumas bifurcações sem marcações, que dependem do tracklog para se seguir a correta, embora possivelmente se unam adiante.


Ainda em casa, tratei de comparar todos os tracklogs disponíveis, na época já muitos, para ter uma noção do que se passava por lá. Ficou evidente que eram frequentados 3 diferentes rotas, que em certo ponto se dividiam da principal durante a descida do médio, até se encontrarem no mesmo ponto na parte mais baixa do vale. Chamei as rotas de "esquerda" "meio" e "direita", e expliquei que na hora identificaríamos a que provavelmente seria mais adequada. Essa trifurcação se iniciava próximo da metade da descida até o vale. Chegando lá, era numa espécie de clareira onde elas se dividiam. As duas rotas "do meio" e a "direita" possuíam algumas fitas antigas, mas a do "meio", que ali no caso era a da esquerda, parecia mais aberta, e foi a que tomemos. A verdadeira rota "da direita" partia dela, mas parecia mais apenas um comum engano que era seguido adiante. A trilha adiante era bem evidente, mas passava por alguns trechos mais fechados, embora apenas dependessem de passar com os braços de forma á abrir o caminho. Como não havia tido chuva recente, escorregar não era comum, mas ficou claro que com solo úmido, seriam frequentes, não tanto pela inclinação, mas pelas folhas no chão e pelo solo em si. Na subida do Capivari Grande adiante, seria o solo e a inclinação que causariam mais quedas.







Chegando no cume, aguardamos a chegada da dupla restante, que acabaram por se perder antes da última descida e começaram á descer sentido noroeste. Por sorte desconfiaram da atitude, e gritaram de debaixo das árvores para conseguir instruções. Gritei para subirem no sentido da minha voz, ou se não estivesse claro, seguissem o lado oposto do sol, o qual ainda deveria ser visível em alguns pontos onde eles estavam, e logo se juntaram á nós no cume. Lá, a sensação de dever cumprido pairava no ar, e nosso colega nos agraciava com um buffet de besteiras que havia comprado.
O drone fez suas últimas filmagens do dia e partimos logo após o sol se por, e rapidamente as lanternas pularam para fora das mochilas. Fazia muito tempo que eu havia ido ao Capivari Grande, ainda quando eu era muito iniciante na prática, e atravessar sua vegetação de cume se deu bem mais rápido do que eu me lembrava. Saímos da floresta com o degrade do sol abaixo do horizonte embelezando o começo da descida, que deu lugar á um céu estrelado que com certeza será lembrado por todos nós. A duração da jornada cobrava alguns de nós que perguntavam inquietamente pela duração da descida, algo que eu sabia que ainda tomaria mais de uma hora, ainda mais para os que pelo cansaço não poderiam acompanhar o ritmo animado dos que tomavam a frente. Todos paramos nas antenas, e de lá alguns seguiram mais rápido, para buscar o carro no posto e ir até onde fosse possível para buscar os restantes, e ali se encerrava á noite para a maioria, exceto para eu e para o Julian, que acabou em pizza.









