O Pico do Tabuleiro era um nome imponente entre as montanhas á fazer de Santa Catarina. Embora o estado pareça ter bastante destino de montanha, poucos são os que possuem maior dificuldade, e mesmo nessas eles não costumam ultrapassar 6 horas de subida. Mesmo as travessias do estado, por mais que sejam geralmente longas, não costumam trabalhar muito com desnível, e muito menos com dificuldade técnica. Enfim, as montanhas do estado costumam ser difíceis geralmente pelo ganho de altimetria, como o Pedra Branca do Araraquara, Pico Garuva, Pico Jurapê, Cambirela, e é claro, o Pico do Tabuleiro. Destas, as que possuem mais dificuldade na minha opinião são o Jurapê, pelo grande desnível enfrentado em certo ponto para depois retomar a subida, e o Tabuleiro pela distância percorrida até o cume enquanto muitas vezes se enfrenta uma vegetação bastante cortante, que mesmo usando mangas compridas ainda pode muitas vezes ferir as mãos ou até o rosto.
Em fevereiro de 2020, logo antes da pandemia de Covid estourar, estava na casa de familiares da namorada e combinei que dedicaria um dia do feriado prolongado para trilhar. Estava numa casa entre Itajaí e Balneário Camboriú e o começo da trilha estava á 1:20h de carro. Chegando lá cedo, não havia lugar na rua para parar (algumas vagas estavam ocupadas) e não queria parar no fim da rua que era mais distante, então parei nos fundos da empresa Apuama Rafting onde eles possuem um estacionamento por 10 ou 15 reais na época. Cheguei na recepção e informei que iria fazer a trilha, onde o sujeito, de forma um tanto grosseira, me desmotivou á fazer a trilha, devido á época e os problemas da vegetação cortante, calor, risco de cobras e aranhas. Eu compreendi, mas estava com perneira, já sabia do calor que enfrentaria, estava com camisa longa e aranha em trilha no Paraná é mato. Sua desmotivação foi tão forte que foi notável sua surpresa no final do dia quando eu retornei da trilha, achando que eu tinha simplesmente ido embora.
A trilha começa subindo um pouco mais a rua, na primeira entrada á direita. Ali se passa por diversas casas até que na parte mais alta se identifica o começo da trilha á direita. O uso de algum tracklog é indicado para identificar a entrada com facilidade. A trilha segue por área aberta um pouco até que após um pouco mais de 400 metros aparece uma entrada á esquerda que deve ser tomada, embora o caminho reto pareça correto mas possivelmente apenas acabe em uma estrada de chão próxima dali. Após mais 400 metros chega-se á uma casa de madeira abandonada, e dali em diante começa uma plantação de Pinus embeleza demais o caminho e se torna um dos cartões postais da aventura.
Ali encontrei um casal de Argentinos que estavam morando em Florianópolis e também escolheram aquele domingo para conquistar o pico, e foram meus companheiros durante toda a subida. Mais adiante começa a vegetação cortante que costuma ficar na altura dos braços e do rosto, cujo contato com a pele não incomoda sempre de imediato mas que logo começa á arder e fica fortemente marcada, levando vários dias para sair. O casal que me acompanhava, por não saber dessa característica da trilha, saiu com dezenas de cortes nos seus rostos e braços, e eu com um corte mais forte no rosto. Essa vegetação continua até mais ou menos a altitude de 1.050 metros, quando logo chega-se ás primeiras áreas abertas com visão para a ilha de Florianópolis e também ao Pico do Tabuleiro. Dali em diante há um trecho de escalaminhada, sem implicações técnicas, e chega-se enfim ao cume no que se avista a sua bela vegetação de altitude.
Lá a trilha continua bem demarcada e é uma área vasta, onde se encontra também uma antena de uso do Corpo de Bombeiros. Alguns morros lá em cima guardam seus mirantes, seja alguns mais para o sul, tanto para o nordeste. Algumas áreas de camping podem se proteger um pouco mais do vento em alguns cumes ou atrás de algumas pequenas árvores. Comemoramos nossa chegada e almoço junto com o casal, tiramos muitas fotos e depois de um tempo damos início á descida. Eu me despeço deles e digo que provavelmente descerei mais rápido para aproveitar mais o dia, e desço sem problemas até a base.