O Morro do Canal é um local conhecido por trilheiros casuais e sua "travessia" completa convida para uma experiência mais imersiva, passando também pelo Morro do Vigia e pela chamada Torre Amarela. Para os mais entusiastas, esses morros também significam mais três coisas: Geralmente é o ponto de partida da lendária Alpha-Ômega, o ponto de chegada da mítica Alpha-Crucis, e também o fato de que perto dali, no Morro do Carvalho, no dia 3 de novembro de 1967, um avião Dart Herald da Sadia colidiu contra o morro matando 23 das 25 pessoas é bordo. Eu já esperava conhecer o local pessoalmente, até que um dia frio e com previsão um tanto chuvosa de 2021 pareceu ser o dia ideal para ir á uma montanha cujo cume fechado não faria diferença.
Altitude: Canal 1.359, Vigia 1.370, Torre Amarela 1.289, e altitude dos destroços aproximadamente 1.412 metros
Altitude da base: 995 metros
Distância da trilha: Aproximadamente 1km até Morro do Canal, mais 1km até o Vigia, 500 metros entre o Vigia e o Torre Amarela e 1.6km do começo da trilha sentido Carvalho até os destroços
Duração: Por se tratarem de vários morros e potenciais paradas, além de que trechos entre o Vigia e o Canal podem estar bastante lamacentos, a duração é muito variável. A "travessia" Canal-Torre Amarela costuma ser realizada em 4 á 6 horas em média, já a ida até o Carvalho parte quase do meio dessa travessia e pode levar de 1:30 até 2:30 até os destroços.
Pontos de água: No vale entre o Ferradura e o Carvalho há um ponto de água, porém um tanto quanto parada. Recomendo levar água para todo o dia, e como sempre Clorin para eventuais emergências.
Localidade: Piraquara
Dificuldades: A ida até o Morro do Canal ou até o Torre Amarela + Morro do Vigia não são muito exaustivos e são bem demarcados, tendo dificuldade entre fácil e moderada. A travessia completa, independente do sentido escolhido, já se torna moderada e mais exaustiva, pela distância e ganho de elevação maiores, além de outros riscos citados mais abaixo. A ida até o Carvalho já é recomendada por pessoas mais experientes e recomendo o uso de perneiras adequadas para proteger contra ataques de cobras, por ser uma área pouco frequentada, e possui também algumas trilhas secundárias que demandam conhecimento e equipamento de localização para evitar problemas. Também á um trecho com certa exposição á quedas durante a subida do Carvalho.
Tudo começa na Chácara do Sr. Zezinho em Piraquara, local que além do grande estacionamento também possui lanchonete e banheiros. A trilha se inicia aos fundos da propriedade, e logo se dividem em duas, com uma placa indicando que o á direita segue-se diretamente para o Morro do Canal, e á esquerda vai direto para o Torre Amarela e Morro do vigia. Logicamente a chamada travessia (embora comece e termine no mesmo local) pode ser realizada tanto por um sentido, tanto pelo outro. Indo sentido o Canal, três trechos merecem atenção: a descida por trás do Morro do Canal, sentido vigia, possui uma escada feita de grampos de ferro usada para descer um alto paredão de pedra. Não é um local necessariamente perigoso se feito com calma e atenção, mas algumas pessoas podem ser mais sensíveis á altura e esse aviso vale para elas, isso especialmente nesse sentido já que o solo lá embaixo não pode ser observado a princípio. Depois, se a travessia incluir a passagem pelo Torre Amarela, que é opcional já que a trilha para este cume sai da principal por cerca de 10 minutos, possui alguns trechos de exposição á quedas que são amparadas por cordas para apoio, mas geralmente é feita sem problemas. E por último, e para mim o mais importante, é que para aqueles que fazem a ida até o Torre Amarela, a volta para a trilha principal merece atenção: A região ali de vegetação alta possui algumas trilhas alternativas, e uma delas, bem aberta á princípio, começa a costear o morro que é o Torre Amarela, passa por uma saboneteira bem notória e por um tempo parece se tratar de uma trilha. Porém com o tempo se vai perdendo os rastros da trilha, e voltar toda a descida pode ser um pouco exaustivo. Cometi esse erro em 2019 na primeira vez que fiz este percurso por achar que o local não precisava de um uso de tracklog por ser um caminho aparentemente conhecido e bem demarcado. Agora em 2021, algumas pessoas me relataram ter chegado da base até a Torre Amarela usando esse caminho, dando á entender que ele pode estar aberto e demarcado, mas acho que podem estar se confundindo, já que no mesmo dia eu também fiz o caminho da base até o Torre Amarela sem identificar outros caminhos.
A ida diretamente ao Morro do Canal geralmente é feita em 60 minutos por trilheiros "casuais", é tranquila e geralmente é feito por pessoas sem experiência sem muitos problemas. Grande parte é feita caminhando ou "escalaminhando" por rochas que constituem o solo da montanha, e algumas vezes grampos de metal formam escadas ou degraus para alguns trechos se tornarem mais seguros. Do cume pode ser vista além de Curitiba, Piraquara e pontos de outras cidades da região metropolitana, a Serra do Araçatuba, a Serra das Canavieiras, a Torre Prata, além dos próprios Morro do Vigia, Torre Amarela e o Morro do Carvalho.
| Ferradura e Carvalho vistos de um ponto do caminho entre o Morro do Vigia e do Canal |
A descida dela logo chega á já citada escada de grampos, chegando ao vale onde por um tempo o solo costuma ser bastante lamacento, independente da época, mas á ponto de ficar feio mesmo após qualquer chuva. A subida até o Morro do Vigia se inicia, desta vez quase toda coberta, alternando-se entre trechos de trilha firme e raízes, e mais solo lamacento. As condições do solo influenciam muito o tempo de chegada do Canal até o Vigia e vice-versa, mas estimo cerca de uma hora. O mirante do Vigia é constituída de grandes pedras pouco abaixo do cume e na verdade são duas áreas distintas, uma pouco além da outra, e dão na minha opinião a melhor vista da travessia.
| Trecho mais baixo da escada, que segue um pouco mais além do campo de visão da foto |
Dali, o Torre Amarela é visto mais próximo e pouco mais abaixo, e a trilha após sua entrada leva cerca de 40 minutos. Neste trecho é comum a presença de grandes aranhas caranguejeiras, que não representam risco mas que não devem ser perturbadas. A trilha até a formação rochosa deve ser feita com atenção especialmente na volta como eu disse acima, mas de forma geral é tranquila e rápida. Sua vista embora não tão ampla quanto á dos morros anteriores, compensa para fechar a travessia. Após descer e voltar á trilha principal, ela segue sentido ponto de origem por um período mais extenso e com solo com alguns pontos mais cautelosos, além de grandes abrigos para chuva em baixo de rochas. Esse trecho costuma levar uma hora, mas como os outros é um pouco variável.
| Torre Amarela vista do Morro do Vigia |
Pouco após o começo da descida do Morro do vigia sentido ao Torre Amarela, existe uma discreta entrada á direita da trilha, coberta por uma vegetação alta, ao lado de uma placa que trata temas de conservação da trilha. Ali começa o caminho até o Morro do Carvalho, cujo caminho, além de ser mais longo e cansativo, tem trechos com trilhas secundárias que podem confundir tanto na ida tanto na volta, especialmente no cume do Carvalho e no vale entre o Morro Ferradura e o Carvalho. O Ferradura é a primeira pequena elevação após o começo da trilha, cujo cume possui uma pequena pedra onde se pode obter uma melhor vista ao redor (não fotografei pelas condições climáticas do dia que não permitiam nenhuma visão). Por ser um local pouco frequentado, o uso de perneira anti-cobra é fundamental, e não aconselho para montanhistas de primeira viagem, ou que não estejam sendo orientados. O cume do Carvalho é coberto por vegetação alta, e alcançado logo antes dos destroços, e por serem poucos, estão distribuídos em uma pequena área, começando por um trem de pouso no meio do caminho, e mais depois alguns pedaços espalhados á esquerda e um pouco a frente do maior deles, uma turbina. Explorei mais abaixo e á direita por alguns caminhos abertos mas não localizei outras partes. Para a minha surpresa, embora seja uma trilha pouco frequentada, ela estava relativamente bem aberta, considerando que eu esperava que ela fosse continuamente de difícil movimentação. Apesar disso, há um trecho no Morro do Carvalho onde é necessário subir por uma rocha coberta com algumas raízes, e ela além de ser um pouco vertical oferece exposição á quedas, e que portanto, reforço a recomendação de que a trilha seja frequentada por pessoas mais experientes e ciente dos riscos e das implicações relacionadas ao Parque Estadual em que se situa. Levamos pouco menos de 1:30h até os destroços, onde almocemos e retornamos com a intenção de retornar pelo mesmo caminho que viemos, sentido Torre Amarela, mas chegando a trilha principal fomos surpreendidos por um clima completamente diferente naqueles morros e fizemos o restante da travessia indo para o Vigia e o Canal.
Sobre o acidente do Dart Herald, o montanhista veterano Julio Fiori escreveu um artigo para o Alta Montanha contando mais sobre o caso e o processo dele até encontrar os destroços "uma tragédia humana que a história registrou enquanto a natureza pacientemente encobriu" (https://altamontanha.com/aviao-do-carvalho/). O acidente que ocorreu durante um vôo que vinha do aeroporto de Congonhas até o Aeroporto Afonso Pena, teve dentre os detalhes mais impressionantes o fato de que os sobreviventes da queda foram justamente as pessoas que ainda não estavam com os cintos de segurança afivelados para o pouso que deveria acontecer em breve, sendo jogados para fora do avião durante a colisão. Das quatro, duas vieram á falecer durante cirurgia. A causa do acidente foi resumidamente um engano do piloto enquanto voava "por relógio" devido as condições climáticas impossibilitarem sua visualização, se enganando quanto á sua localização e vindo á colidir com a montanha, em tempos que a ausência de equipamentos mais modernos teriam evitado a colisão.
| Retorno antes da praça de pedágio da rodovia Curitiba-Paranaguá que dá acesso á região do Morro do Canal |






