Previsão de chuva em todo lugar que não é oeste, e como já não é mais temporada de montanha, de qualquer forma seria inapropriado subir alto mesmo com céu aberto. Ao oeste, muitas quedas de água merecem visita, estas que sempre olhei por fotos e tendia á subestimar sua experiência, mas com o tempo vi que a impressão pessoal é tudo nestes cenários. Cancelamento já esperado dos companheiros e lá sigo ao primeiro destino, após deixar as calças no pedágio da Lapa, sigo a Rodovia por mais 10 minutos até chegar á um puteiro no lado oposto da rodovia, em uma curva bem acentuada, que dá nome á primeira cachoeira do dia: Volta Grande.
Após parar o carro no puteiro e atravessar a rodovia, chega-se á dois portões, cujo o direito possui uma passagem e dali começa uma pequena trilha de 5 minutos até a cachoeira "principal". Ali são na verdade duas, uma logo acima da outra, sendo que a de baixo possui um poço de cerca de 1.70 de profundidade, ao menos na área ao centro onde nadei e á esquerda. A de cima precisa ter atenção para não escorregar e acabar deslizando até a inferior, cuja queda em uma pedra específica ali não seria agradável. Apesar de ainda ser de manhã e estando uns 18 graus de temperatura no ar, me surpreendo com a temperatura da água, outra coisa se comparada com o gelo das águas da Serra do Mar. Voltando a trilha, ela segue um pouco mais abaixo, em um trecho que acaba ficando mais fechado, e com algumas saídas com visão para a próxima queda de água, logo abaixo das anteriores. Nestas janelas é preciso muito cuidado pois são muitos expostas á quedas e não há locais firmes para se agarrar, e a própria aproximação á elas é um tanto íngreme. Eu saí impressionado com o local, de muito fácil acesso e de muita beleza. Evidente que estas qualidades garantiram muito lixo e oferendas na coitada da cachoeira.
A próxima cachoeira não era perto, mas a vista da estrada passando por Porto Amazonas sempre faz o tempo passar mais rápido. A Cachoeira do Jacaré fica no território do município de Palmeira, e ao passar pelo local de sua marcação no Google Maps, não identifico sua entrada, mas mais a frente estaciono em um pequeno local aberto do lado oposto da rodovia que já imaginei que seria a parada para acessá-la a pé. Caminho em direção a ela e passo por um local onde o riacho é visível, mas nada de cachoeira ali. Ao tentar procurá-la através desta rasa passagem de água, logo enfio a perna até o joelho na areia submersa que pensava ser firme e vejo que a densidade dela quase me fez abandonar a bota no fundo. Mais adiante eu veria que esse tipo de solo predomina ao redor desta cachoeira, em qualquer local onde a água passa. Volto para a Rodovia e logo identifico a entrada correta, onde chega-se á cachoeira rapidamente e onde o solo formam diversas "panelas" e formações ocas que lembram o famoso Vale da Lua na Chapada dos Veadeiros. A Cachoeira do Jacaré são duas quedas de água um tanto baixas mas muito bonitas, pelas árvores ao redor e pelo nível baixo de água que deixa o solo areioso citado acima com sua tonalidade bem evidente, e ao redor há alguns pontos de camping bem interessantes. Apenas não é uma cachoeira com muitos pontos para um banho, já que quase se limita ás panelas da parte de cima e á ficar em baixo das quedas de água cujo acesso e um tanto incoveniente pelo solo. Mas assim como o anterior, este lugar me surpreendeu muito positivamente.
Seguindo a viagem vou para a que envolveria mais tempo, tanto de estrada, tanto de trilha. A Cachoeira Fantasma á muito tempo estava nos meus planos, embora as informações á seu respeito nunca deixassem algumas coisas bem claras, oque aumentavam suas dúvidas e mistérios que já são bastante evidenciadas pelo seu próprio nome. A estrada de chão que chega á ela começa após o pedágio de Witmarssum, e não antes como sugere o Google Maps (partindo de Curitiba). Enquanto eu baixava as Tracklogs para a trilha, percebi que haviam dois percursos diferentes para o acesso á ela: Uma que fazia acesso mais por cima, e aparentemente parecia se passar pela maior parte do tempo por dentro em mata fechada, além de passar ao lado de uma Gruta, e a mais por baixo - e portanto, mais próxima da altitude da cachoeira -, onde seria possível ir um pouco mais além com o veículo e começar a trilha por uma chácara, pedindo a autorização do proprietário. Escolho fazer a trilha por cima, que mesmo que fosse um pouco mais longa, faria mais o meu tipo e passaria por um ponto de interesse á mais. Logo que chego no local, já encontro cerca de 30 pessoas no começo da trilha, todas com a mesma roupa alaranjada e com diversos símbolos, deixando evidente que se tratava de algum programa, evento ou empresa, mas resolvo não perguntar pois pareciam muito exaustos. Tive um pouco de dificuldade para identificar o começo da trilha, pois ela passa por uma propriedade de plantio e não havia nada que indicasse o caminho, e mesmo onde deixa de ser plantio, não havia nenhum indício de trilha pelo caminho onde dois tracklogs diferentes indicavam ser o correto, até que ao passar por baixo de uma cerca de arame farpado, a trilha aparece. Ali já passo por mais 20 pessoas iguais as que estavam no começo. Continuo a trilha bem demarcada e de constante declive, e constantemente passo por mais pessoas, e em certos pontos por dezenas delas. Eu realmente não esperava ver tanta gente em uma trilha de cachoeira que não é exatamente popular, perto ou fácil de chegar. Eu achei que já tinha passado por todos, quando de repente passo por facilmente mais de 80 pessoas, algumas com uniforme laranja e outras não, mas visivelmente todas parte da mesma excursão. Eu pergunto á um deles afinal oque eles são e de onde vem, e diz que são do Programa "Legendários" e que caminham e acampam desde o dia anterior, embora não sou e dizer exatamente o ponto de origem da caminhada (?). Muitos estranham minha presença e direção, e constantemente eu era abordado pelos indivíduos de laranja para que eu seguisse as ordens prévias ou que eu ficasse com o meu grupo, algumas vezes de uma forma até um tanto hostil, pelo menos até eu dizer que eu não estava com eles (para se ter noção da quantidade de pessoas). Cheguei á gruta mas estava com fila destas pessoas para passar de um ponto á outro, já que ela tinha uma entrada e saída, mas sinceramente pelo ambiente do local com estes indivíduos e pela curta extensão dela, e ainda por ter deixado minha lanterna de cabeça no carro, deixei ela de lado e segui o meu caminho. Após a gruta a trilha se torna um tanto arriscada, com diversos trechos com exposição á quedas, e trechos de descida em pedras lisas, que mesmo que auxiliadas com cordas fixas, precisam de muita atenção. Há também um trecho arriscado de descida em rocha que não havia corda, e que fui auxiliado por estes mesmos homens que subiam, para que eu descesse em segurança, ponto que é bem mais fácil subir do que descer, pela dificuldade de visão para apoiar os pés. Dali em diante acabou a companhia desta excursão e a trilha seguiu por mais cerca de 15-20 minutos passando ou contornando o rio, com a trilha razoavelmente bem evidente e algumas fitas as vezes. Chego em um ponto onde há a continuação do rio ou o começo de uma outra trilha, e esta trilha que chega em segundos até a Cachoeira, cujo seu ambiente menos iluminado gera grande e repentina mudança ao visitante. Ela é grande como eu esperava, bonita e com um ar de secreta, com águas um pouco mais frias e um poço que dá pé até um ponto, e que subitamente o perde. Ao chegar, um grupo de 5 pessoas inaugurava sua via de descida de rapel pela cachoeira, que eu acompanhei sua comemoração pelo feito. Pergunto á eles se eles tinham vindo do caminho "de baixo" pois eu cogitava voltar por ele do que encarar filas e filas daquele grupo que com certeza iria demorar para subir, e eles informam que tinham sim vindo por baixo, e que a trilha era simples e tranquila.
Por azar, mesmo munido de um Powerbank carregado, meu celular resolve parar de funcionar subitamente, acusando falta de bateria. Seu vício em energia o causou estranhos hábitos que desta vez foram ligar apenas á cada 10 minutos com 2-3% de bateria (diversas vezes) e desligar novamente. Isso me dificultava ver o tracklog do caminho por baixo, mas confiei no relato do colega e eu realmente acreditava que ir por baixo era a melhor opção.
Depois de um banho na cachoeira e algumas fotos, sigo trilha e ela se demonstra bem tranquila e demarcada, até que seu caminho acaba em um ponto onde á esquerda há uma enorme ladeira de mato sem trilha, exceto alguns que se cruzam e alternam um tanto marcados por animais. Como não identifiquei nenhuma saída alternativa na trilha antes desse ponto, e como o tracklog que eu tinha desse percurso por baixo era apenas um (que eu não conseguia acessar facilmente pela situação), resolvo seguir mato acima por ver um poste lá no topo dessa colina. Após subir boa parte embaixo de sol forte, o mato se torna muito alto para continuar. Mas ali uma trilha aparece embora seja bem fechada e com muitos espinhos que não tiveram dó dos braços e das canelas. Passo á andar movido pela força do ódio, já que fica evidente que fiz alguma burrada no percurso até ali, ou que o caminho de baixo é na verdade muito pior e pouco frequentado, e minha única confiança de continuar subindo era o fato de que eu pelo menos sabia que eu chegaria na estrada de chão, não importa oque eu passasse, e que provavelmente aquele poste já estaria na estrada de chão. Ao chegar nele, surpresa, é um poste de ligação no meio do mato. Consigo ligar um pouco o celular e vejo que a estrada estava mais acima, e nesse momento me dou conta que embora não seja um perrengue extremo em lugar de difícil localização, eu tomei uma decisão errada, quando simplesmente era parecia ser a melhor diante da outra que também tinha seus riscos. Ao subir mais um pouco para enfim chegar em uma das ruazinhas marcadas pelo Google Maps, descubro que aquilo não era uma rua, e sim um caminho aberto dentro de uma propriedade que o Google marcou como rua, e que na verdade a rua em si estava muito acima dela. Então trato de seguir adiante com medo de acabar chegando nas casas da propriedade e acabar dando de cara com algum cachorro que me atacasse e melhorasse de vez aquele caminho. Chego na casa e ao ver diversos animais, já espero que dar de cara com um cão solto não ia ser tão difícil, ainda mais que parecia não ter ninguém em casa. Mas eu tinha que passar por ali, não tinha jeito. A alternativa de voltar tudo até a cachoeira e seguir por onde vim seria desgastante. Então passo pela propriedade com muita atenção e pelo canto, onde enxergo de longe as casinhas de cachorro, não muito pequena, de onde pelo jeito o meu silêncio não tenha acordado o morador. Pulo o portão e vou após andar mais um pouco enfim estou na estrada que me levaria ao estacionamento enfim. Gastei mais tempo que o esperado, incovenientes na ida e na volta, mas ainda com espectativas de prolongar o dia na região.
Após retornar á Rodovia, o próprio retorno em frente á estrada de chão de acesso á Cachoeira Fantasma levava á outra cachoeira no sentido oposto do Rodovia, a apenas 10 minutos dali, em uma via mal asfaltada mas tranquila. A Cachoeira Ribeirão do Meio me surpreendeu bastante, acessada por uma curta caminhada partindo de uma área aberta ao lado da via, está em uma área muito bonita e possui várias quedas de água ao decorrer dela, e como o fluxo de água estava alto, pude presenciar toda sua força. Mas definitivamente não parece ser um local muito seguro para banho, já que ela se alternava muito entre áreas rasas, panelas e áreas fundas, e todas sujeitas á estarem em linhas de fluxo de água, que poderiam facilmente levar uma pessoa quedas á baixo, em algumas delas potencialmente fatais, caso houvesse colisão direta com algumas rochas na queda. Mesmo assim o banho é possível, e eu mesmo entrei em alguns pontos, mas com muita atenção e só em locais isolados do fluxo e após analisar a profundidade do ponto, mesmo sabendo nadar. Vale muito a visita, mas para banho, eu considero um tanto arriscado.
Na volta para Araucária, resolvo passar pelo Cristo do Purunã, estátua erguida em direção da cidade de Campo Largo e com uma bela vista da região. O local estava assim como suas descrições o citavam, completamente abandonado e depredado. Era evidente que a intenção era construir um local bem interessante para passeio, e que não se limitava á ele, mas á um parquinho e pontos de lazer no caminho que se chega á ele enquanto se desce a serra do Purunã, mas aparentemente em algum momento o projeto foi completamente abandonado. A quantidade de lixo deixa evidente que o seu uso atual é geralmente para baderna. Trip encerrada, partiu casa. Verão não começo e as cachoeiras já começaram á "sumir do meu mapa", segue o plano.