Temporada de inverno de 2021, e o morro Araçatuba é pela terceira vez destino de manhã de domingo. Não que seu cenário não deva ser revisto muitas outras vezes, mas á essa altura do campeonato uma figurinha repetida precisa ter uma boa razão. E eles eram o meu interesse pelo acesso aos morros Baleia e Moreia, os sucessores do Araçatuba na popular travessia Araçatuba-Monte Crista. Eles podem ser acessados também pela chácara Apocaliptus, porém havia três motivos para que essa não fosse a minha opção: A indisposição para encarar uma estrada de chão mais longa, relatos de que a estrada de chão que daria acesso ao começo das trilhas não estaria muito convidativa para um veículo de altura padrão como o meu e de qualquer forma acessa-los pelo Araçatuba parecia dar mais sentido e aventura á esses morros menores, e de bônus ter um conhecimento prévio desse trecho para uma futura travessia até o Monte Crista.
Altitude da base do Araçatuba: Aproximadamente 900 metros
Distância da trilha: 14km ida e volta
Duração (variável): Levei 4 horas até o último ponto, o Morro Moreia, em bom ritmo no geral, e cerca de 3:30 para a volta.
Pontos de água: Há uma torneira instalada no começo da subida do Araçatuba, bem ao lado da trilha. Após isso eu não lembro de observar outros pontos de água.
Localidade: Tijucas do Sul e possivelmente também atinge o território de Guaratuba
Dificuldades: Médio/Difícil, distância percorrida e ganho de altimetria consideráveis. Trilha bem demarcada, embora no caminho tanto para o Moreia tanto para o Baleia surgem algumas bifurcações, em que é bom estar sendo orientado por alguma tracklog. Risco de assaltos baixa. Pequena exposição á quedas enquanto se desce do Baleia em direção ao Moreia, mas seguindo a trilha corretamente o risco diminui.
Dia dos Pais de 2021 e os que combinaram, desistiram em cima da hora. Como na minha família o hábito de se reunir nesse dia geralmente é pela noite, a perfeita condição climática do dia poderia ser bem usufruída. Chegando no atual estacionamento do Araçatuba, mais adiante da pequena casa onde a trilha começava, paro o carro na rua e ouço uma mulher vindo falar de dentro do estacionamento que eu deveria parar lá dentro, na área paga. Eu digo que nas outras vezes já tinha o hábito de estacionar ali e ela insistiu que "Aqui nessas ruas um monte de gente dirige sem carteira, Deus o livre de acontecer alguma coisa com o teu carro novo assim, ainda mais aqui nesta curva". Mesmo parando praticamente fora da curva e sendo um trecho onde vir em alta velocidade não teria o carro como alvo, resolvo parar lá dentro, pois vai que o carro aparece com alguma colisão ou marca inexplicável por estar fora do estacionamento. Assim como outra área conhecida por montanhistas, ser coagido pelos "vendedores de vagas" com sutis ameaças me instiga é sempre recomendar o contrário ao indicar uma trilha. Lá no Ibitiraquire, nem me fale.
Trilha começa 8 da manhã e é o Araçatuba de sempre: bonito desde o começo, mas que o corpo exige algumas paradas para acordar para a vida e umas hidratadas incomuns para um dia frio e na "torneirinha" uma garrafa já precisa ser reabastecida. Fica evidente que a trilha estava bem vazia tendo encontrado apenas 8 pessoas até o cume do Araçatuba, onde haviam mais algumas pessoas. Lá o cãopanheiro do Araçatuba deixa um grupo de lado e vem me receber em troca apenas de um pouco de chamego e quem sabe um lanchinho. A subida até o Araçatuba foi feita em 1:20 com poucas paradas e focando no melhor tempo para lidar melhor com imprevistos mais tarde.
Após uns 20 minutos no Araçatuba sigo caminho pela sua extremidade na direção Sul. Ali alguns escorregões fortes acontecem e já me preocupam quanto ao estado da trilha dali em diante, é um ponto que merece bastante atenção para descer apesar da inclinação não ser tão acentuada, mas por ser bastante liso e sem pontos de apoio. A quantidade de teias de aranhas na vegetação baixa era um spoiler de que provavelmente eu não veria ninguém no restante do dia, ou que pelo menos estivesse ido antes de mim. Após descer 100 metros de altitude em 800 metros de distância, chego á primeira área de mata fechada do caminho, curto, e logo saio em direção á outro pequeno cume que dá uma visão mais próxima do Morro Baleia. Dali em diante, a descida se torna acentuada, bastante lisa e em alguns trechos um pouco perigosa, onde a ida em grupos deve ser cuidadosa para não fazer com que pessoas caiam acima das outras ao deslizarem e o uso de perneira anti-cobra se torna muito recomendável independente da época. E antes de chegar ao Baleia, a subida de um morro adjacente é necessária, e após ele mais uma descida com um curto trecho de mata onde se chega á um marco geodésico que eu não havia lido á respeito. Já um pouco exausto com as inesperadas variações de altitude, chego ao cume do Baleia maravilhado. O dia colaborava muito com um mar de nuvens ao sudeste e um céu azul, e a vegetação de altitude contrastava de uma maneira que só essa região é capaz de se gabar. A visão do Araçatuba me impressionava pela distância percorrida.
Araçatuba visto do Morro Baleia
Eu deveria fazer uma pausa ali, mas ao observar o morro Moreia me custava a acreditar que demoraria muito para chegar, e talvez lá fosse o lugar mais adequado para uma parada mais longa. Assim desço o morro Baleia em direção á ele por uma trilha bem demarcada que com o tempo se torna um pouco confusa com algumas bifurcações, mas fui confiando no tracklog que eu possuía. Ao chegar ao pé dele ficou claro que os caminhos indicados pelo meu tracklog ou pelo Osmand não pareciam boas idéias, que apesar de apontarem diretamente ao cume, pareciam subir por uma área mais rochosa e com vegetação ou pouco mais alta, e resolvi então seguir contornando a trilha mais evidente até chegar quase ao lado oposto do morro, e vendo que ali uma plaquinha um tanto hippie indicava o acesso ao Moreia (ao ver melhor no Google Earth mais tarde ficou evidente que se eu tivesse analisado e seguido as trilhas que são facilmente visualizadas por satélite nas áreas de vegetação de altitude, eu teria tido menos incertezas, embora meus palpites na trilha deram certo), e após uma pequena subida, já estava no cume do Moreia, ponto final da ida. Ali percebi duas coisas, uma eram as áreas de camping espalhadas pelo morro (eu só havia observado uma área já pronta para camping no Baleia), e de que na minha opinião, a vista do Baleia era mais bonita, pois além de ser mais alta, impedia boa parte da visão leste do morro da Moreia, inclusive do Morro dos Perdidos.
Morro Moreia visto da descida do Baleia
Rios descendo o Araçatuba
Pedra Branca do Araraquara, objetivo alcançado no final de semana seguinte
Pausa um tanto rápida para o almoço das 14:30 no cume e partiu voltar. Voltei em ritmo um pouco mais relaxado, contando de pegar o pôr do sol enquanto eu descia o Araçatuba. Desde a chegada ao Araçatuba de manhã até o estacionamento á noite, ninguém nas trilhas por onde passei. Confesso que cheguei no carro psicologicamente esgotado, não tanto pela trilha, mas por faze-la sozinha. O silêncio é bom mas a companhia distrai e no final parece estar mais cansado do que o normal. Mas estava muito feliz pelos feitos do dia. Agora, o Araçatuba me aguarda para uma exploração pelos seus caminhos laterais ou pela travessia até o Crista.
Morro dos Perdidos visto do Araçatuba