Quando fiz em 2019 as rápidas passagens pelos pequenos morros do Escalvado (Matinhos) e o Morro do Boi (Caiobá), achei que nada mais naquelas bandas me interessaria, além das cachoeiras espalhadas ao lado da rodovia Alexandra-Matinhos, que até hoje ainda não receberam um dia dedicado á elas. Mas eis que no feed do Facebook me aparece uma postagem de algum grupo de montanhismo uma paisagem desconhecida e nos comentários um nome: Cabaraquara, com 478 metros, que embora próximo já pertence ao território de Guaratuba. Um nome que dali em diante seria mais comum, dado que aparentemente é uma trilha recém consolidada, salve engano. No Wikiloc, já haviam algumas poucas marcações, que sempre mostravam a mesma perspectiva que era a Baía de Guaratuba, e seus rios que visto por satélites parecem ser trincas no continente. A bela paisagem era incomum entre o montanhismo paranaense e sentia a necessidade de conhece-la logo me toma conta.
Altitude: 455 metros
Altitude da base: Aproximadamente 20 metros
Distância da trilha: Cerca de 1.5km até o mirante
Duração (variável): Levamos 50 minutos para subir e 40 para descer
Pontos de água: Apenas no começo da trilha
Localidade: Guaratuba, Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange
Dificuldades: Fácil/Intermediário, iniciantes conseguem fazer a trilha. Sem trechos de exposição durante o caminho, exceto na área do mirante que por ser um pouco exposta á quedas merece cuidado. Trilha bem demarcada, mas sua região requer atenção contra animais peçonhentos, ainda mais em épocas quentes. Risco de assaltos dentro da média de um lugar razoavelmente frequentado.
O tempo passa e as montanhas que faltavam e que estavam mais perto pareciam sempre mais convidativas. Mas não por conta delas, mas sim pela falta de vontade de pagar quase 40 reais de pedágio ida-volta e ainda ir até lá por conta de uma trilha relativamente curta. Então, quando por algum motivo mais convincente compensava o mão de vaca ir para aquela direção, eu inclui-a no roteiro a possibilidade de encaixar o Cabaraquara após o objetivo principal, caso houvesse tempo e disposição. Primeiro foi no domingo do morro Pedra Queimada, já relatado aqui, em que atrasos na saída de Araucária consumiram boa parte da manhã, e uma boa dose de satisfação pós-trilha já não incentivava a ida até Caiobá. Depois, a ida até o Pilão de Pedra parecia mais longa e cansativa mas a hipótese não era descartada, embora surgiu um compromisso que fez com que o Pilão de Pedra tivesse que ser o único, mas ainda a ida até ele foi muito mais complicada do que o esperado com um dia cheio de perdidos e sustos, nem se tivesse começado cedo ou não houvesse compromisso o Cabaraquara valeria apena, ainda por estar á uma hora de viagem.
Em janeiro de 2021 vim a descobrir o "Cassino de Morretes", enorme construção abandonada em uma ilha que me obrigava a ir o quanto antes explora-la, e em fevereiro de 2021, um feriado municipal era uma excelente alternativa para matar dois coelhos de uma vez. Mesmo sendo verão as vias estariam mais toleráveis por se tratar de uma sexta-feira e pelas cachoeiras ao redor também estarem pouco frequentadas valeria a pena encaixa-las também nessa viagem. A cachoeira escolhida foi a da Macumba, que embora pequena e que não seja tão frequentada quanto ás outras, me chamava muita atenção e foi a escolhida, mas por um erro de planejamento grotesco acabei pegando o caminho errado e só percebendo o erro mais tarde, quando já havíamos perdido um bom tempo andando por ter parado o carro longe, e em vez de perder mais tempo em incertezas e perder a ida ao Cassino, pulamos o roteiro e fomos direto á ele, uma escolha acertada e fazendo uma ida tranquila, segura e memorável.
Mas isso tudo foi á tarde: de manhã a idéia já era que nosso primeiro ponto fosse o Cabaraquara, e assim que chegamos o dia estava indeciso quanto ao clima que escolheria. Paramos o carro na rua em frente á algumas casas onde alguns moradores saiam para trabalhar ou varriam suas calçadas e um deles, um simpático senhor, ao ver nossas mochilas e nossos olhares para o paredão rochoso onde se encontrava o mirante do morro e perguntou quanto á nossa intenção de ir lá, e que embora ele já more ali á algum tempo e tenha muita vontade, ainda não foi conhece-lo pessoalmente. Começamos o trajeto e uma das primeiras coisas que chama a atenção é que a "Estrada do Cabaraquara" que o Google Maps indicava como trajeto mais rápido para aquela vila, é acessada apenas por carros altos com tração integral, dada as grandes pedras que estão no caminho, além de que torna-se ainda mais fechada adiante. Escolhi ir pelo caminho da balsa por já conhece-la e saber que pelo menos seria uma rota asfaltada, embora se mostrou a única viável. A trilha começa á esquerda dessa estrada, embora seja importante pontuar que no começo existem duas entradas diferentes. Uma é bem no começo dessa caminhada pela "Estrada do Cabaraquara" e aparentemente está em um morrinho á beira dela onde não há árvores, e a outra é um pouco mais adiante, quando a estrada se torna fechada de vez. Esta é a que tomamos e achamos tranquila, embora ambas se juntem mais adiante. Durante toda a subida, ela segue basicamente o mesmo grau de elevação. A trilha também estava bem demarcada, embora não possui-se fitas, pelo menos no dia em que fui, e a vegetação ainda invadisse a trilha em alguns pontos. Não havia notáveis bifurcações, mas que pelo crescimento do seu público pode chegar á ter. Até o momento a trilha não estava em mapas abertos como o OpenStreetMaps.
Nesse começo de trilha, chamou a atenção algumas construções abandonadas, completamente tomadas pela natureza. Após ela, um rio de aparência cênica nos obrigou á uma parada considerável na volta, além das suas águas com uma água extremamente cristalina e com pequenas lagostinhas que davam ainda mais vida ao cenário.
A trilha segue e após pouco menos de uma hora de trilha chegávamos ao que parecia ser o cume do morro, confirmando nossas suspeitas de que o cume é completamente coberto por vegetação sem nenhuma aparente trilha para outra perspectiva que não fosse aquela que sempre vimos em fotos, e que com certeza se situava acima da rocha que víamos do estacionamento. E após seguir a caminhada para baixo chegamos á primeira janela que já nos brindava com uma bela vista e pouco depois a vista completa do "cume" do Cabaraquara.
Por fim, uma trilha tranquila de aproximadamente 1.50km de extensão (ida), e aproximadamente 360 metros de desnível positivo, seguido de cerca de 50 metros de desnível até o mirante, com uma vista sem igual, com certeza ainda mais em dias com o céu mais aberto. Uma passada obrigatória para quem está entediado no litoral e faz questão de um visual de montanha que seja menos "urbana" que a de seus parentes Morro Escalvado e Morro do Boi. Eu estava satisfeito por tirar mais um nome mesmo que tão simples da lista de objetivos e poder afunilar cada vez mais os restantes á uma área menor e mais próxima.









